sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Teresina: Verde, quero ver-te!

Projeto de intervenção no meio ambiente escrito na disciplina de Responsabilidade Social no curso de Especialização em Docência do Ensino Superior na Faculdade Santo Agostinho, Teresina, Piauí, sob orientação das professoras doutoras Glayds Saraiva e Jovina Silva.
TEMA: Meio Ambiente

JUSTIFICATIVA


O meio ambiente é um fator influente na qualidade de vida de qualquer ser vivo existente no nosso planeta, porém, muitas vezes em meio a uma sociedade industrialista e tecnológica, não tem recebido a atenção adequada. Como conseqüência disso, a natureza vem respondendo de forma negativa e os problemas gerados por essas respostas têm feito com que ao menos uma parcela da população considere as discussões sobre a questão ambiental como sendo cada vez mais urgentes e importantes. Afinal, o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis.

Dentre os males causados ao Meio Ambiente encontra-se o desmatamento, derrubadas e queimadas de árvores e poluição da água e do ar. Observando o problema, este projeto, que tem como tema “Teresina: Verde, quero ver-te!”, é uma ação em favor da natureza, visando a arborização responsável de nossa capital.

A arborização urbana relaciona-se ao conjunto de vegetação arbórea de uma cidade, seja natural ou cultivada. Este conjunto reúne as árvores presentes nas vias públicas, calçadas, canteiros, praças, jardins, parques e áreas particulares.

Com este projeto, busca-se a compreensão da ação benéfica das árvores para a melhoria da qualidade de vida dos teresinenses e também o conhecimento das conseqüências do desmatamento, conscientizando a população sobre a importância dos cuidados com o meio ambiente.

Espera-se que este projeto contribua para a preservação de nossa cidade, sabendo que a arborização desempenha funções muito importantes, proporcionando ao homem saúde, lazer e estética.


PROBLEMATIZAÇÃO


Sabendo-se que o verde tem grande importância para as cidades, principalmente com relação à qualidade de vida de sua população, faz-se necessário a constante intervenção do poder público e privado no sentido de monitorar e organizar, executando medidas e manejo que visem a preservação e adequação do verde no município.

Dessa forma, foi elaborado o projeto “Teresina: Verde, quero ver-te!” com o seguinte questionamento: Quais os benefícios das árvores para a melhoria da qualidade de vida da população de Teresina?


OBJETIVOS


GERAL:
  • Compreender a ação benéfica das árvores para a melhoria da qualidade de vida

ESPECÍFICOS:

  • Entender as conseqüências do desmatamento, conhecendo também as práticas de preservação do meio ambiente por meio de palestras e oficinas.
  • Promover a através da plantação de mudas arbóreas.
  • Conscientizar a população sobre a importância dos cuidados com o meio ambiente.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA



A falta de respeito e cuidado com nosso planeta compromete o equilíbrio ecológico. Os efeitos como o esgotamento da matéria prima, a quebra dos ciclos responsáveis pela recomposição natural desses recursos, a contaminação do ar, do solo e da água, a extinção acelerada de espécies animais e vegetais nos indicam claramente que a realidade não é um fato somente de produção e consumo.

Entretanto, sabe-se que a natureza não reclama, não discute: reage. Dessa forma, observou-se a necessidade de buscar o desenvolvimento de ações práticas e conscientizadoras, objetivando o interesse pela preservação do meio ambiente como fator determinante na relação homem-natureza e como conseqüência e garantia de qualidade de vida.
Mudar para uma vida sustentável e atenta às necessidades da Terra será, para a maioria das pessoas, um passo enorme. Não é mais aceitável pensar em conservação e desenvolvimento como se fossem idéias opostas, mas precisamos reconhecer que são partes de um mesmo processo necessário.

Viver de modo saudável é um princípio que deve ser adotado por todos, mas isto não será possível enquanto houver milhões de pessoas privadas do essencial para viver bem. a fim de que possamos pensar no bem-estar das futuras gerações – e de outras espécies – precisamos de um novo tipo de desenvolvimento, o qual melhore a qualidade de vida da população.

A arborização é um dos elementos que contribuem para melhorar a vida nas cidades. As árvores dos passeios públicos, praças, jardins e parques urbanos trazem sombra e beleza, amenizam o clima, purificam o ar, reduzem a poluição, dão sombra e transmitem sensação de bem-estar às pessoas. Trazem vida e saúde e refletem o grau de civilidade de um local, pois o cuidado com as árvores urbanas informa muito sobre a educação de um povo e sobre o compromisso de seus governantes.

Segundo Meunier (2003), para que se tenha sucesso em programas de arborização urbana é preciso considerar alguns aspectos fundamentais na sua elaboração e execução:

  • Decisão política favorável, garantindo o direcionamento dos recursos necessários à execução do programa de arborização e a valorização dos técnicos e da participação social.
  • Conscientização e motivação da comunidade, em prol de sua efetiva participação na definição das metas e no desenvolvimento das atividades.
  • Respaldo técnico especializado para garantir o acerto em decisões mais específicas no planejamento e na condução da arborização (como no caso da seleção de espécies ou realização de podas, que exige treinamento e supervisão eficientes).

A maior parte do desenvolvimento atual fracassa por atender apenas parcialmente às necessidades humanas e por frequentemente destruir ou minar sua fonte de recursos. Um programa de arborização urbana pode tem data para começar, mas não para terminar. Precisamos de ações que sejam ao mesmo tempo centradas nas pessoas, voltadas para a melhoria das condições da vida humana e baseadas na conservação, mantendo a variedade e a produtividade da natureza.


METODOLOGIA

Esse projeto de natureza quali-quantitativo é uma idealização dos professores do Departamento de Biologia da Universidade Estadual do Piauí, os quais almejam a conscientização e motivação da comunidade em prol de sua efetiva participação no cuidado com o meio ambiente de nossa capital.

Para sua realização, contar-se-á com o apoio de várias entidades:

  • Apoio técnico municipal através da Superintendência de Desenvolvimento Urbano (SDU-Norte);
  • Patrocínio financeiro do governo do estado;
  • Um grupo formado por 15 alunos do curso de Biologia;
  • Participação de uma escola da rede pública a cada ano de realização do projeto.

À frente do “Teresina: Verde, quero ver-te”, os professores do departamento de Biologia da UESPI estarão responsáveis por toda a ligação das entidades e realização do projeto, o qual ocorrerá anualmente durante um mês em uma escola da rede pública a ser escolhida e consultada, a fim de que seus estudantes possam aprender sobre esse importante tema e se tornarem colaboradores do projeto.

Em um primeiro momento serão escolhidos 15 alunos na universidade para participarem do projeto como monitores. Eles serão preparados teórica e ativamente para, posteriormente, passarem esse conhecimento à comunidade através de palestras, seminários e oficinas. O grupo de alunos será constante, havendo mudanças somente por término do curso ou motivos especiais. Ao final de seu tempo de permanência no projeto, os alunos receberão o certificado de monitoria.

Para a efetivação do projeto trabalharemos com: leituras textuais e interpretativas, palestras, demonstrações científicas, debates e apresentações artísticas como forma didática, estimulando toda a comunidade escolar. O primeiro contato será através de discussões orais com os alunos divididos em suas classes nas aulas de biologia, a fim de se perceber suas concepções a respeito da responsabilidade com o tema. As discussões serão orientadas pelos monitores e professores da turma. Somente depois desse primeiro contato os alunos participarão das palestras e oficinas ministradas pelos estudantes monitores e funcionários da SDU.

Folders e cartilhas serão distribuídos a fim de que os alunos possam disseminar seu conhecimento em casa e na vizinhança.

Terminados os ciclos de palestras e oficinas, a escola receberá as mudas escolhidas pela SDU para aquela região e cada aluno ficará responsável pelo plantio e manutenção de uma árvore.

A SDU será a responsável pela escolha adequada das mudas, os locais que a receberão e o registro das novas árvores.

A fiscalização rotineira no processo de crescimento das árvores ficará a cargo da comunidade escolar, a qual buscará o apoio da SDU quando for necessária alguma intervenção.

Os professores responsáveis pelo projeto, junto com os monitores, farão todos os anos uma nova observação nas mudas plantadas no ano anterior e entregarão um relatório à Universidade e outro a SDU.

A época escolhida para a realização do “Teresina: Verde, quero ver-te” foi o mês de março, uma vez que esse mês está dentro de condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento das mudas.

Durante o plantio, todas as árvores terão seus dados registrados (espécie, local de plantio, data e o nome o aluno responsável). Esse registro ficará arquivado tanto na SDU, quanto na Universidade. E plantadas as árvores, os alunos se comprometerão a cuidar de suas mudas para que, ao final de um ano, ao serem fiscalizadas pela universidade, elas estejam vivas e saudáveis. Observando-se, então, uma ação ambiental positiva por parte da escola e dos alunos, será entregue, de forma solene, o certificado Escola Amiga do Verde.


CRONOGRAMA

Organização das atividades do projeto “Teresina: Verde, quero ver-te” para o ano de 2007, primeiro ano de realização.

Semana de 05 a 09 de março

Discussões em salas de aula com os alunos e monitores a cerca da importância do tema.

Semana de 12 a 16 de março

  • Palestras e oficinas com os monitores e funcionários da SDU;
  • Distribuição de folders e cartilhas aos estudantes.

Semana de 19 a 23 de março

Preparação e treinamento para o plantio e cuidado com as novas mudas.

Dias 28 e 29 de março

Visita à escola e ás árvores para observar o desenvolvimento das árvores e dos cuidados destinados a elas.


VANTAGENS E DESVANTAGENS

VANTAGENS

  • Aproximar a universidade da comunidade local e dos alunos do ensino fundamental e médio das escolas públicas.
  • Melhoria na qualidade de vida da população.
  • Desenvolver a idéia de responsabilidade social com o meio ambiente nos corpos discentes e docentes, como na comunidade em geral.

DESVANTAGENS

  • Falta de vontade e compromisso político com o apoio financeiro e técnico.
  • Possível não compreensão por parte das escolas sobre a importância e os benefícios do projeto.
  • Falta de comprometimento dos alunos no cuidado com as árvores.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • EDUCAÇÃO, Ministério da. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente:saúde. Secretaria da Educação Fundamental. 3 ed. Brasília, 2001.
  • MEUNIER, Isabelle. Planejamento da Arborização Municipal. Elementos para elaboração de um programa municipal de arborização de municípios nordestinos. Recife/PE – 2005.
  • SANTOS. Jesieldo Lima Nunes dos. Implicação do projeto Teresina + Verde no desenvolvimento de atitudes e valores. Instituto Superior de Educação Faculdade Santo Agostinho. Teresina/PI – 2006.

Papéis da ação didática: análise de dois exemplos retirados de filmes

Ao longo da história, a educação sofreu muitas transformações, o que não poderia deixar de acontecer, já que ela acompanha o progresso da humanidade. Portanto, por trás do trabalho de cada professor, em qualquer sala de aula do mundo, estão séculos de reflexões e novas formas de atuação sobre o ofício de educar.

Os filmes “O espelho de duas faces” e “Lutero” vêm nos mostrar um pouco sobre essas formas de atuação que tanto o professor quanto o aluno exercem em sala de aula e a forma como os conteúdos são ministrados. Em ambos os filmes temos professores com comportamentos semelhantes, embora as épocas em que as histórias se passam sejam bem longínquas uma da outra. Lutero, filme que reconta a história da Reforma Protestante, aborda a detenção do conhecimento pela Igreja Católica, principalmente o Bíblico. Somente alguns podiam ser educados e, conforme vemos no filme, a educação se restringia ao que o professor repassava para seus alunos. O personagem Lutero, no entanto, procura mudar drasticamente esse modelo ao questionar seu professor e fazê-lo passar por situações de constrangimento por não saber como responder. O próprio Lutero, que também ministra aulas, persuade seus alunos sobre muitos assuntos, fazendo-os refletir sobre muitas coisas acerca da Igreja.

Em “O espelho de duas faces”, o professor de matemática demonstra ter a personalidade do detentor de informações e possui uma postura completamente indiferente a seus alunos e ao ambiente de troca escolar. Por outro lado, seus alunos também ignoram a aula e o que o professor escreve no quadro, pois para eles o conteúdo não faz sentido e não está ligado a nada que lhes interesse. De um outro lado vemos uma professora de literatura que demonstra integração total com a sala de aula, com o que os alunos têm a observar sobre o conteúdo, usa linguagem simples e mantém o interesse de todos por ter uma postura flexível e crítica, causando o mesmo nos alunos.

Como pode-se observar, os dois filmes falam de duas realidades muito presentes ainda hoje nas salas de aula. Portanto, quando se fala em evolução dos papéis do professor, é necessário ter em mente de que nem todos alcançaram ao alcançarão essa nova postura crítica, flexível, atualizada e orientadora que se espera nos docentes do século XXI. E consequentemente, como também fica claro, nos filmes e em nosso próprio cotidiano didático, os alunos mudam suas posturas de acordo com a postura que seus mestres apresentam. Não que os alunos de um professor de estilo tradicional jamais questionarão sobre o assunto, mas é bem provável que ao fazê-lo a sua postura seja a mesma de Lutero: questionar para desconstruir o que o professor afirma com tanta veemência e não para colaborar de forma amigável.

É necessário que qualquer professor dos dias atuais saiba que, independente de sua postura em classe, os alunos de hoje, muito mais do que ontem, não são bacias vazias, sem conhecimento e que precisam urgentemente de instrução para conseguir um emprego. A internet, a televisão, revistas, bibliotecas espalhadas por todos os lugares e maiores facilidades de viagens têm enriquecido a vida de crianças antes mesmo de elas pensarem em ser matriculadas na escola. Os alunos, em qualquer grau de ensino, já têm idéias, mesmo que incipientes, sobre tudo o que acontece no mundo e o que eles não sabem, podem descobrir com o simples manuseio do mouse do computador.

Essa facilidade de se chegar aos conteúdos, ao invés de derrubar a figura do professor, ajuda-o a sair da mesmice de ter que repassar a mesma matéria dezenas de vezes, pois seus alunos, ao se interessarem, podem descobrir coisas que o próprio docente não sabia. O grande trunfo do professor hoje deve ser o de orientador, ajudando os alunos a se movimentarem em meio a tanta informações, a escolher o que é mais significativo, a terem criticidade.

Nessa nova sala de aula também é urgente que se discuta com mais propriedade os conteúdos a serem ministrados e principalmente a metodologia a ser utilizada, pois ainda hoje, com tanta tecnologia, muitos alunos não entendem o porquê de terem que estudar certos conteúdos por não perceberem neles nenhuma utilidade prática em suas vidas. Esse pensamento é normal para uma sociedade que não tem mais tempo para o que é supérfluo, na qual o tempo passa muito rápido e são muitas as informações e cobranças. Na antiguidade, o ideal de educação era que todos soubessem sobre tudo e pudessem dominar desde a arte até as ciências. No entanto, vivemos na sociedade das especialidades, o saber está cada vez mais dividido e não há tempo a perder com informações que não serão usadas.

A evolução educacional não tem limites, assim como o a evolução da humanidade, hoje já se está discutindo a educação à distância e a nova postura do docente nessa era digital. O mais importante a ser assimilado em qualquer era da história que nos encontrarmos, é a de que o professor deve sempre manter a postura de mestre e aprendiz ao mesmo tempo, deve manter-se crítico sobre si mesmo e seus próprios conhecimentos e saber que cada aluno possui uma história única com experiências que ele desconhece. E dar a voz a esses alunos será a melhor leitura a ser feita em sala de aula.
______________________
Texto escrito em 2007 - Especialização

Oficina de Produção Textual: Rede Cultural

Oficina realizada, em 2007, em uma escola particular de Teresina, Piauí.

Ministrante: Léa Mara dos Santos Alves



APRESENTAÇÃO


Escrever é, antes de tudo, comunicar idéias ao maior número de interessados possíveis, visando ser compreendido. É, portanto, no mínimo, estranho que na escola, local privilegiado para o exercício da escrita, o aluno tenha que aprender a escrever reproduzindo pensamentos alheios para um único leitor que se interessa muito mais em avaliar do que compreender.

Diante disso, o presente projeto, denominado Rede Cultural, aponta para uma proposta diferente na realização de uma Oficina de Produção de Textos que contempla envolver os alunos na leitura, análise e produção de diversos gêneros com ênfase na argumentação e informação, procurando motivar o estudante a escrever suas próprias impressões sobre o mundo que o rodeia orientados por propostas textuais apresentadas pelo professor. Esses textos, que serão discutidos, revisados e selecionados pelos alunos, farão parte da construção de um contexto real de escrita e recepção, o qual será concretizado na formação de um blog que servirá de meio para a publicação dos textos produzidos pelos alunos, permitindo o acesso irrestrito à leitura dos mesmos e gerando a comunicação entre escritor e leitores por meio dos comentários postados. A publicação virtual dos textos será trabalhada visando uma socialização destas produções.

A Oficina ocorrerá nos meses de maio, junho e julho, com um encontro semanal de duas horas/aula cada, nas terças-feiras. O projeto Rede Cultural destina-se a estudantes de Ensino Médio, especificamente os alunos do 2º ano.


JUSTIFICATIVA

Dominar a língua oral e escrita é cada vez mais fundamental para a participação social efetiva. E é fator inquestionável no sucesso pessoal a necessidade de saber expor suas idéias de forma clara, concisa e coerente, argumentando com eficácia. Diante dessa verdade e considerando a realidade da escrita de estudantes, o projeto Rede Cultural tem como prioridade orientar a produção de textos com ênfase na argumentação e na informação. Isto não quer dizer que apenas a função referencial da linguagem será explorada; pois, sempre que necessário, outras opções estilísticas serão abordadas de forma a conscientizar o aluno sobre usos e abusos da linguagem, enquanto fazer social.

O texto literário também é importante, mas a não abordagem dele na oficina, de forma direta fundamenta-se simplesmente pelas características artísticas próprias deste, que são subjetivas e fugidias da escrita padrão, não contemplando o tipo de trabalho proposto, o qual se baseia principalmente na formulação das informações veiculadas nos textos.

No entanto, não se pretende transformar a Oficina em um curso convencional de redação que privilegia aspectos técnicos ou gramaticais, embora também os inclua. Mas sim, abordar os mais diversos tipos de gêneros textuais para que se possa promover a aproximação do aluno com a enorme diversidade de atividades enunciativo-discursivas das esferas sociais. E para expressar suas idéias em um gênero determinado é necessário que o aluno seja posto em contato com um modelo desse gênero, o qual lhe servirá de referência. Portanto, a leitura será abordada na oficina como fator motivador e norteador para as produções escritas.

É importante ressaltar que o projeto Rede Cultural não deve ser interpretado como suficiente em si mesmo, desconsiderando o conhecimento apreendido em sala de aula. Pelo contrário, buscar-se-á uma integração com os outros professores das diversas disciplinas, abrindo espaço no blog para as mais variadas atividades planejadas para a publicação de resultados, relatórios, passeios e outros.

OBJETIVOS


Objetivo Geral

1. Produzir textos observando o plano das convenções gráficas, das regras sintáticas, semânticas e pragmáticas.


Objetivos Específicos

1. Ler, analisar e produzir textos com diferentes tipologias, intencionalidades e estilos;
2. Reconhecer e desenvolver etapas fundamentais do processo da escrita em gêneros diversos;
3. Publicar os textos produzidos pelos alunos em blog para que sejam lidos e comentados por leitores interessados.

PROPOSTA DO PROJETO

O projeto Rede Cultural tem a proposta de realizar uma Oficina de Produção de Textos com ênfase na informação de temas variados, privilegiando a função referencial. O público-alvo do projeto Rede Cultural são os estudantes de Ensino Médio, especificamente os alunos do 2º ano. Sendo que, para desenvolver este projeto, será utilizado como mecanismo o gênero textual “blog”, no qual os alunos irão publicar seus textos para diferentes leitores sobre assuntos diversos, considerando os seus interesses nos universos pessoal, familiar, escolar e social, anteriormente discutidos, avaliados e selecionados por eles.

Após a seleção do tema, será apresentada uma proposta de produção textual pelo professor, com o objetivo de tornar a escrita prazerosa e com sentido realmente social (aluno-comunidade). Pretende-se estimular o escritor a sentir prazer ao produzir seu texto. Essa produção ocorrerá em sala de aula e será avaliada pelos alunos, em grupo, com a participação efetiva do professor.

Após a avaliação grupal, serão selecionados os textos produzidos pelos alunos para serem veiculados no blog da turma, os quais serão submetidos aos comentários dos leitores, podendo inclusive gerar debates.

Dessa forma, é propiciada aos participantes a experiência de se posicionarem como organizadores, debatedores e formadores de opinião, estimulando-os a se empenharem na busca de um raciocínio cada vez mais claro, coerente e crítico já que suas produções estarão sendo publicadas na internet, estando ao alcance de todos os que navegam na rede. Outra vantagem do blog é a possibilidade de o aluno trabalhar com a intertextualidade através de imagens, músicas ou links para outros textos na web que sirvam para enriquecer a sua produção.

Assim, a idéia de se trabalhar com o blog como ferramenta pedagógica surge a partir de quatro pontos principais: formação descentralizada, publicação dos textos em tempo imediato, interação com os leitores através de comentários e a atração que essas páginas virtuais exercem sobre os jovens.

O educador Paulo Freire pregava que a leitura e a escrita são os mais poderosos meios de comunicação, os quais permitem entender e apreciar as idéias dos outros e expressar as suas, mostrar o que se sabe, o que se quer dizer para o resto do mundo e o que os outros estão lhe transmitindo ou expressando, isso também ajuda o indivíduo a se integrar no mundo de um modo igualitário e justo.

No entanto, ainda hoje são bastante conhecidas as estatísticas sobre a educação brasileira, as quais revelam um número muito grande de alunos que terminam os anos escolares sem conseguir utilizar as habilidades de ler e escrever como recurso para compreender e expressar seu contexto social (analfabetismo funcional). Os problemas observados especificamente na escrita continuam sendo os textos mal seqüenciados, com graves problemas de incoerência, fora de seu contexto de produção e deficientes em ortografia. Nacir Abdala, considerando a escola como um autêntico lugar de comunicação por causa das ocasiões de recepção/produção de texto, diz que:

Algumas das prováveis razões das dificuldades para redigir pode ser o fato de a escola colocar a avaliação do produto como objetivo da escrita, de privilegiar aspectos gramaticais, de impor tópicos a serem desenvolvidos, de não fornecer comentários ou até de mostrar pouco interesse pela escrita, privilegiando, por exemplo, a leitura de forma mecânica, que não oferece desenvolvimento criativo [...]

Considerando essas afirmações, o projeto Rede Cultural é uma busca pelas competências da escrita como expressão coerente da visão pessoal do aluno sobre o que ele vê e sente como cidadão crítico do mundo, aproximando sua produção de sua realidade vivenciada e distanciando-a da avaliação, da imposição de idéias difundidas e da participação meramente corretiva do professor. Dessa forma, pretende-se desenvolver no aluno o uso da linguagem escrita de forma crítica para aprimorar a habilidade de argumentação nas produções textuais e estimular a liberdade de pensamento.

Para a efetiva realização desse projeto é imprescindível a participação e o apoio de toda a comunidade escolar (direção, professores, funcionários e outros alunos) no que diz respeito à ajuda na divulgação, ao acesso do blog, leitura e comentários, pois é necessário que o aprendiz possa sentir que realmente está produzindo para um leitor – que não deve ser somente o professor.


METODOLOGIA

As aulas do projeto Rede Cultural decorrerão no formato de oficina com duração de três meses, configurando-se em um encontro semanal de duas horas/aula cada.

Antes do início das atividades, será realizada uma avaliação diagnóstica sobre a situação da escrita no grupo através de um questionário a ser respondido no primeiro encontro. Esse questionário informará o grau de dificuldade ou facilidade na expressão verbal de cada aprendiz e possibilitará uma avaliação mais correta do avanço na escrita dos estudantes após o término da oficina.

Em todas as aulas serão feitas leituras de textos com temas e estruturas de interesse do grupo, seguidas do reconhecimento do gênero, do vocabulário, estrutura textual, figuras de linguagem, estilo, recursos lingüísticos e uma investigação dos efeitos de sentidos possíveis para a compreensão do discurso. Todas essas atividades serão construídas a partir do conhecimento prévio dos participantes, de pesquisas e atividades de discussão, gerando-se uma troca de experiências no primeiro momento em sala de aula entre alunos-alunos e alunos-professor e no segundo momento no blog.

Para a implantação do blog serão necessários alguns passos que iniciarão os alunos nas atividades de escrita como: resumo sobre a história e funcionamento dos blogs; escolha do nome da página virtual; relatórios que contem sobre a criação, evolução e participação dos alunos no novo blog; editorial contendo carta de apresentação, objetivos e regras de funcionamento e participação no diário; divulgação publicitária através de folders. Dessa forma, os estudantes se sentirão mais à vontade e estimulados a escrever à medida que a proposição de produção textual seja bem clara e definida, apresentando-se as “coordenadas” do contexto de produção.


AVALIAÇÃO

O processo de avaliação a ser adotada fundamentar-se-á em critérios interativos desenvolvidos através de reflexões teóricas e abordagens práticas. Será contínuo e sistemático nos níveis formativo e somático. Levar-se-á em conta a pontualidade/assiduidade às aulas, o empenho e desempenho dos alunos nas atividades propostas.

CRONOGRAMA DOS CONTEÚDOS
MAIO


02.05 - Encontro especial: Bem-Vindos!

-Aplicação do questionário (avaliação diagnóstica)
-Distribuição de várias espécies de gêneros textuais (livros, catálogo, folheto, jornal, revista e outros) pela sala para que os alunos entrem em contato possam manusear.
-Conversa com os alunos sobre o questionário e gêneros textuais
-Explicação do professor sobre fatores de textualidade.
-Identificação dos fatores de textualidade pelos alunos em um gênero escolhido por eles.
-Explicação da oficina Rede Cultural e do Blog
-Pesquisa-resumo sobre a história e funcionamento dos blogs.


08.05 – Eu descobri...

-Conversa sobre o que os alunos viram de mais interessante nos blogs que visitaram e o que descobriram.
-Leitura individual, seguida de análise pelo grupo, de um artigo sobre o mundo dos blogs e suas novidades.
-Divisão em grupo de três alunos para lerem seus resumos entre si e escreverem um resumo das idéias mais interessantes na visão deles para a construção de um blog.
-Reunião dos alunos para que cada grupo defenda seu artigo para ser o documento norteador do blog da turma.


15.05 – Memória e registro: documentando o nosso nascimento.

-Discussão sobre a importância de se registrar a existência de algo ou alguém.
-Apresentação do Relatório: uma forma de documentar e analisar o andamento e evolução de um projeto.
-Construção do relatório: atividade individual com o auxílio do professor.
-Revisão e reescrita.
-Aprovação do relatório que ficará com o professor.
-Todos os dias um aluno será escolhido para ser o relator do encontro e deverá apresentar o seu relatório 15 minutos antes do término da aula.


22.05 – Ei, você aí! Escolhendo o título.

-Compreensão da importância e surgimento dos títulos nos textos.
-Análise da junção de discurso e resumo em textos jornalísticos e publicitários a partir da amostra de alguns títulos inteligentes, frases bem elaboradas e nomes de marcas.
-Distribuição de textos e imagens para que os alunos criem títulos ou frases para eles.
-Apresentação da atividade para os colegas.
-Discussão sobre propostas para o título do blog.
-Leitura do relatório.


29.05 – Recebendo bem o nosso leitor.

-Manuseio de revistas e jornais para localizar o editorial.
-Leitura, de forma analítica, de editoriais de revistas, jornais e sites (previamente impressos) para observação de estrutura, autor e conteúdo.
-Questionamento sobre a estrutura e o conteúdo observados pelos alunos e sobre a importância desse espaço.
-Criação de uma lista sobre os diferentes assuntos que estarão no blog para que eles escolham o que mais lhes agrada.
-Divisão da turma por afinidade de temas para a criação de editoriais e nomes para as colunas.
-Troca dos editoriais entre os grupos para avaliação, revisão e aprovação.
-Leitura do Relatório


JUNHO


05.06 – Aula especial: Mãos à obra!

-Leitura e discussão de um artigo sobre o mau uso da internet.
-Criação de regras para o uso do blog.
-Início da montagem do blog da turma em um site previamente escolhido.
-Divisão dos alunos em grupos. Cada grupo receberá uma tarefa específica para a concretização da construção do blog.
-Seguindo as orientações do professor, cada grupo fará o upload (lançar na internet) dos editoriais de suas colunas.
-Leitura do Relatório


12.06 – Quem não se comunica se trumbica!

-Leitura sobre o processo da comunicação e os elementos que geram o sucesso ou o fracasso de uma mensagem.
-Manuseio e visualização de várias propagandas impressas em revistas, jornais e folders.
-Seleção de uma propaganda que mais tenha chamado a atenção e socialização com a turma do que foi observado sobre estrutura, conteúdo e linguagem utilizada.
-Exposição sobre elementos mais importantes da linguagem e meios de comunicação da publicidade.
-Divisão da turma em grupos de três a quatro alunos e distribuição de tarefas para que a turma monte a campanha de divulgação do blog para folders e cartazes.
-Leitura do Relatório


19.06 – Patrocínio é coisa séria.

-Conceituação e utilização dos documentos burocráticos.
-Observação e manuseio de documentos burocráticos: ofícios, memorandos, requerimentos e atas.
-Análise sobre as características observadas nestes documentos feita pelos alunos.
-Exposição dos elementos presentes na estrutura, conteúdo e linguagem de documentos burocráticos.
-Produzir um requerimento para a direção da escola solicitando uma ajuda financeira para produzir o material da campanha publicitária do Blog.
-Troca dos textos produzidos entre os alunos, avaliação e reescrita.
-Escolha de um requerimento para ser enviado à direção.
-Leitura do Relatório


26.06 – Desconstruindo textos de escritores cheios de estilo.

-Leitura sobre a importância da leitura para escrever bem.
-Leitura individual de notícias, crônicas e contos previamente escolhidos focando os aspectos formais dos textos.
-Exposição de trechos dos textos para o grupo e análise dirigida sobre os recursos lingüísticos e estéticos usados pelo escritor.
-Divisão da turma em duplas e continuação da análise, marcando e listando nos textos os diferentes recursos lingüísticos que são percebidos.
-Socialização do resultado das análises.
-Leitura do Relatório.


JULHO


03.07 - Criar: 1% de inspiração e 99% de transpiração.

-Divisão da turma em grupos de acordo com os temas que eles trabalharão no blog.
-Leitura de textos escolhidos pelo professor. Cada grupo lerá variados gêneros que abordem os temas previamente escolhidos por eles.
-Orientação do professor em discussões promovidas nos grupos.
-Produção de textos pelos alunos em gêneros individualmente escolhidos por eles.
-Revisão dos textos com a orientação do professor, colegas e material de apoio.
-Leitura do relatório
-Publicação no blog dos textos terminados e revisados.


10.07 – Jornalistas escolares.

-Leitura de reportagens em jornais e revistas
-Explicação dos elementos de um texto jornalístico.
-Listagem das lembranças de acontecimentos importantes e interessantes na escola.
-Distribuição das notícias entre os alunos de acordo com seus interesses.
-Produção individual das notícias.
-Revisão dos textos com orientação do professor, colegas e material de apoio.
-Leitura do relatório.
-Publicação no blog das notícias terminadas e revisadas.


17.07 – Todos juntos, vamos!

-Divisão da turma em três grupos.
-Explicação da atividade Escrita Coletiva.
-Distribuição e leitura de vários textos abordando três temas diferentes, escolhidos previamente por eles, um para cada grupo.
-Orientação do professor em discussões promovidas pelos grupos.
-Produção grupal de artigos que explanem sobre o tema abordado nos grupos.
-Dinâmica de escrita: a cada 5 minutos muda o escritor, enquanto todos juntos buscam ajudar o colega da vez.
-Revisão dos textos com orientação do professor, colegas e material de apoio.
Leitura do relatório.
-Publicação no blog dos artigos terminados, revisados e considerados bons por toda a turma.


24.07 – História em quadrinhos. Oba!

-Manuseio e leitura de revistas em quadrinhos de modelos variados.
-Identificação dos aspectos estruturais e lingüísticos dos quadrinhos.
-Distribuição entre os alunos de imagens de personagens das histórias e tirinhas formando uma seqüência visual.
-Produção do texto nas histórias de acordo com a interpretação individual das seqüências visuais.
-Revisão dos textos com orientação do professor, colegas e material de apoio.
-Leitura do relatório.
-Publicação no blog, com a ajuda de scanner, das histórias criadas e revisadas.


31.07 – Tudo o que é bom acaba rápido.

-Conversa sobre os conteúdos estudados na Oficina Rede Cultural.
-Avaliação sobre o blog e discussão sobre sua manutenção.
-Escrita de uma carta ao professor falando do aprendizado e dificuldades, sobre as impressões do projeto e visão anterior e atual da escrita.
-Considerações finais do professor sobre o projeto e a evolução dos alunos.
-Confraternização de encerramento

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDALA, Nacir. Concepções de leitura e de escrita. Disponível em . Acesso em 17 abr. 2007.

BAZARD, Elie. Ler e dizer. Compreensão e comunicação do texto escrito. São Paulo: Cortez, 1994.

BETING, Graziella. Aprender aumenta a auto-estima. Nova Escola. São Paulo: Abril, p. 30-31, dezembro de 2003.

PASSARELLI, Lílian Ghiuro. Ensinando a escrita – o processual e o crítico. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2004.

Uma análise das condições de so do presente do indicativo no português falado por teresineses do ensino fundamental e médio

Projeto de Pesquisa desenvolvido em 2005 quando fui bolsista do PIBIC (Programa de Bolsa de Iniciação Científica) pela UFPI, sob orientação da professora doutora Maria Auxiliadora Ferreira Lima.
TRABALHO PERMIADO COM MENÇÃO HONROSA

INTRODUÇÃO

Neste relatório apresentamos os resultados da pesquisa <>. Esta analisa a realização do tempo verbal ocorrendo no mesmo momento da enunciação expresso pelas manifestações do presente do indicativo em produções lingüísticas orais. Trata dos usos temporais e aspectuais dessa forma verbal na fala de teresinenses que cursam as últimas séries do ensino fundamental (4ª e 8ª) e do ensino médio (3ª) detectados nos dados coletados. Esses dados nos proporcionarão uma visualização das condições de uso desse tempo por falantes que estão em contato com o ensino formal do emprego dessa forma verbal.

Observamos os verbos de acordo com os conceitos de temporalidade e aspectualidade, estabelecendo categorias classificatórias que variam de acordo com o seu comportamento semântico.

Neste relatório apresentamos, inicialmente, uma exposição de nossos objetivos e o modo como a pesquisa se concretizou. Teceremos, ainda, considerações referentes às observações dos dados sustentadas em teorias de estudiosos da área.


OBJETIVOS

A pesquisa teve como objetivo geral analisar aspectos da gramática do português falado por teresinenses que se encontram nas últimas séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Como objetivos específicos, destacamos:

  • O estabelecimento de um quadro das formas verbais utilizadas no presente do indicativo,
  • A identificação dos os usos semânticos das ocorrências verbais utilizadas no presente do indicativo,
  • A identificação das marcas de aspectualidade nessas formas verbais,
  • O estabelecimento de um quadro comparativo das semelhanças e diferenças que marcam o uso das ocorrências verbais no presente do indicativo na fala dos alunos de escolas da rede pública e privada, considerando a variável nível de escolaridade (4º e 8º séries do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio).

METODOLOGIA

Esta pesquisa faz parte de um projeto-núcleo que tem como um dos objetivos básicos a descrição de aspectos do português falado por teresinenses. Trata-se de uma pesquisa de natureza investigativa que requer a construção de um “corpora”, ou seja, de um conjunto de dados lingüísticos textuais,originários da amostra da produção lingüística oral de um conjunto de informantes.

Para o seu desenvolvimento fizemos uso do “corpora” do projeto-núcleo “Aspectos Gramaticais do Português Falado por Teresinenses” constituído através de gravações da fala de 96 informantes, alunos da 4º e 8º séries do Ensino Fundamental e da 3º série do Ensino Médio. As gravações foram feitas em 4 escolas da rede pública e 4 da rede privada. De cada escola está sendo realizada, por série, uma gravação de sessenta minutos da fala de 4 informantes (2 do sexo feminino e 2 do sexo masculino), na faixa etária entre 10 a 20 anos, perfazendo um total de 96 informantes. Mas para este projeto, trabalhamos com a amostra da fala de 24 informantes distribuídos em 04 escolas (duas da rede pública e duas da rede privada). De cada escola, por série, utilizaremos os dados lingüísticos de 6 informantes (2 por série) de acordo com a distribuição explicitada acima.

Para as gravações foi utilizado um sistema de entrevistas “não estruturadas” que favorece um contato mais formal entre entrevistador e informante, possibilitando um discurso mais contínuo. Quanto ao estabelecimento das variáveis, consideramos os seguintes fatores: nível de escolaridade, natureza da escola (pública e privada) e sexo.

Feita a escolha dos corpus a serem analisados, fizemos o levantamento e a separação das ocorrências dos verbos no presente gramatical e a leitura de outros trabalhos nessa área para o suporte teórico de nossa pesquisa. Escolhemos, entre as várias manifestações de diferentes verbos, focalizar nossos estudos nos verbos plenos, observando-os a partir da semântica verbal. Por fim, começamos as análises dos dados levantados.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tempo é uma categoria lingüística que situa o fato em relação ao momento da enunciação. As abordagens lingüísticas costumam estabelecer as relações temporais a partir desse momento da produção do enunciado pelo falante. Assim o tempo do evento é situado em um momento anterior, posterior ou simultâneo ao momento da enunciação.

O presente é definido como o tempo no qual há simultaneidade entre o momento do evento (ME), momento da fala ou enunciação (MF) e o momento de referência (MR). Essa definição do presente do indicativo como sendo a expressão de um fato que ocorre no mesmo momento em que se fala é muito freqüente, nas gramáticas escolares. Ferreira (1995, p. 138), por exemplo, se limita a dizer que o presente “indica fatos que acontecem no momento em que se fala”. Mas já existem autores de gramática escolar que consideram outras abordagens. É o caso de Cereja e Magalhães (1999, p. 152) para quem o verbo no presente “expressa uma ação que está ocorrendo no momento em que se fala ou uma ação que se repete ou perdura”, considerando a aspectualidade verbal. Já Infante (1997, p. 203) vai mais além, citando também a aspectualidade, ressalta ainda a forma verbal do presente do indicativo sendo usada para fazer referência a outros tempos como o passado, o futuro e com valor imperativo.


1. ASPECTUALIDADE VERBAL


Para se falar em tempo verbal é necessário conhecer o conceito de aspecto verbal. Segundo Lima (2005, p. 112), tempo e aspecto são funções distintas que se confrontam para estabelecer o valor temporal de uma construção verbal, sendo que “o tempo é responsável pela localização temporal do fato, enquanto que o aspecto responde pelas propriedades internas do processo, como, por exemplo, duração, freqüência, instantaneidade, começo, desenvolvimento e fim”. Para este estudo vamos abordar os aspectos de duração e habitualidade, que são os mais visíveis nas análises. Vejamos alguns exemplos

1. [No interior o pessoal gosta mesmo?] (de forró)
GOSTA e paga melhor (…) (E.Pu.M.8ª)

[conhece algum grupo de jovens?]
CONHEÇO no Parque Piauí. (E.Pa.M.8ª)

3. [O que você mais gosta de fazer?]
(...) Eu PRETENDO até fazer faculdade pra:: ... pra Artes Plásticas (...) (E.Pa.M.3º)

4. [qual a sua opinião a respeito das crianças que estão fora da escola estão trabalhando?]
eu ENTENDO assim desse assunto (...) (E.Pu.M.4ª)

Todos esses verbos possuem uma duração expressiva marcada por suas naturezas semânticas. Dentro dessa natureza semântica de duratividade, podemos incluir outros verbos que também apareceram em nossas análises como “amar”, “odiar”, “desprezar”, “permanecer”, “ser”, “dominar”, “crer” etc.

Tratando ainda sobre a aspectualidade, há também aqueles verbos que remetem à idéia de ações habituais. Eles são retratados no tempo presente, mesmo que não estejam acontecendo de forma alguma durante o momento da enunciação. Lima (2005, p. 113) confirma essa análise ao explicitar que “o momento da realização dessas ações não coincide com o momento da enunciação”. Vamos observar os exemplos a seguir:

5. [E você deve ter acompanhado aquele alarde que fizeram a respeito da vinda do Beira-Mar pra cá o que você achou daquilo?]
eu tenho um irmão que ele ESTUDA fora ele mora no Rio e... todo mundo sabe de vez em quando ele LIGA que ele está lá no apartamento dele trancado (...) (E.Pa.F.3º)

Dessa vez, os verbos não indicam uma ação contínua que perpassa o momento da enunciação, mas apontam para ações que são extremamente comuns de acontecer. Na resposta da pergunta 5, a informante diz que seu irmão “estuda” e “liga” porém não devemos supor que essas ações estejam acontecendo de fato enquanto elas são informadas. É perfeitamente possível que o irmão dela não esteja estudando e não esteja ligando durante o MF. A opção que a entrevistada tem de citar essas ações na forma verbal do presente do indicativo denunciam que essas são situações habituais e por serem tão habituais podem ser enunciadas a qualquer momento na forma verbal do presente.

6. [No interior o pessoal gosta mesmo? (de forró)]
gosta e PAGA melhor (…) (E.Pu.M.8ª)

No exemplo 6 temos “pagar melhor” que é um hábito das pessoas do interior, sempre acontece. Perceba que quem “gosta” de forró, gosta a qualquer momento, inclusive durante o MF, mas não necessariamente enquanto o informante fala da ação de “pagar melhor” no interior, isso estará acontecendo. Analisar a diferença da aspectualidade entre esses dois verbos, nos leva à natureza semântica de ambos, sendo que “gostar” é um verbo de estado, “expressa uma propriedade do sujeito” (Borba, 1996, p. 60), enquanto “pagar” é um verbo de ação pontual, ou seja, “expressa uma atividade realizada por um sujeito agente” (Borba, 1996, p. 58) em um determinado momento.

7. [qual é a sua rotina de vida?]
Eu ACORDO mais ou menos às seis horas ...seis e meia ... TOMO banho ... aí ESCOVO meus dentes ... aí me ARRUMO pra ir pra minha escola ... pego ... ARRUMO minha mala ... (sorrindo) a minha mochila ... Aí DESÇO ... TOMO café ... Aí ... toda vez eu CHEGO atrasado na ... lá no carro ... porque todo mundo ENTRA na minha frente ... Aí ENTRO no carro e a gente VAI pro colégio ... Aí ... ASSISTO as aulas ... Aí eu SAIO uma e meia (...)

Vamos utilizar o exemplo 7 para considerarmos um modelo de raciocínio que Lima, (2005, p. 112) utiliza para esclarecer a questão da habitualidade.
No dia a, eu acordo mais ou menos às seis horas, tomo banho, escovo os dentes, me arrumo;
No dia b, eu acordo mais ou menos às seis horas, tomo banho, escovo os dentes, me arrumo;
No dia c, eu acordo mais ou menos às seis horas, tomo banho, escovo os dentes, me arrumo, etc.
Aqui temos a habitualidade marcada como “todo dia”.

Vejamos outros exemplos:

[em relação ao estudo ... tu estuda em escola particular ... mas como tu vê o ensino da escola pública hoje?]
o ensino da escola pública hoje em dia ele é muito prejudicado porque todos os anos SE FORMAM quarenta professores pra cada área determinada então os melhores INGRESSAM nos colégios particulares (...) (E.Pa.M.3ª)

[E você assim só vai lá de vez em quando? (na casa do pai ver o cachorro)]
não eu VOU todo final de semana as vezes VOU as vezes vou lá sexta quinta-feira (E.Pu.M.8ª)

10. [Você mora no Dirceu né? Você tem conhecimento dessas gangues por lá?]
É eu ASSISTO jornais e VEJO algumas informações de gangue lá né ? (...) (E.Pa.F.8ª)

Aqui temos mais exemplos do presente com o aspecto de habitualidade. Esses são fatos que podem acontecer de freqüentemente, como vemos nas sentenças 8 e 9, em que o próprio informante fala em advérbios como “todos os anos” e “todo final de semana” ou que podem acontecer todos os dias como exemplifica a resposta da pergunta 7. São exemplos de que o tempo presente possui um forte caráter semântico de eventos comuns no cotidiano. Bechara (2001, p 214), falando sobre a característica cursiva do presente, diz que “como o curso admite certa duração, os verbos pontuais aparecem no presente como formas de neutralização do passado ou do futuro ou então significam uma ação repetida”.

2. Simultaneidade do fato com o momento da enunciação
2.1 Simultaneidade pontual

Encontrar um verbo na forma de presente do indicativo indicando um fato que aconteça exatamente no momento em que se fala dele foi muito raro em nossas análises. Exemplos como “Do lugar onde está, ele não me vê”, dado por Corôa (1985, p 46), em que o evento está em pleno desenvolvimento enquanto é referido não é comum em nossos dados. Mesmo levando em consideração que o fato de estar concedendo uma entrevista limita as ações de nossos informantes, é sabido como característica desse tempo verbal a dificuldade de se observar uma simultaneidade perfeita entre o início e o fim de ME e MF. Coroa (1985, p. 45) confirma essa observação ao dizer que “o uso do chamado presente não implica necessariamente contemporaneidade com o momento da enunciação”.

Como alguns exemplos da forma verbal do presente do indicativo representando o tempo presente de fato, podemos destacar:

11. [me conta a historinha da Bela e a Fera eu não conheço]
ah eu PREFIRO contar da Cinderela... tinha uma meninazinha que sua mãe faleceu e seu pai se casou com... eh com outra mulher (...) (E.Pa.F.4ª)

12. [e você prefere lecionar ou você prefere trabalhar?]
eu PREFIRO assim ... trabalhar assim ... eu num PREFIRO lecionar por isso eu tô fazendo biologia (...)

No exemplo 11, a informante, ao ser interpelada a contar uma história sobre a Bela e a Fera, enuncia imediatamente sua preferência em contar outra narrativa. A manifestação pela preferência, expressa pela forma verbal “eu prefiro” ocorreu no momento da enunciação. Em seguida registramos um uso mais amplo da forma verbal do presente do indicativo do verbo “preferir” para uma comparação entre os dois usos. Perceba que no primeiro momento “eu prefiro” é pontual, uma vez que a própria pergunta é pontual; já no segundo uso, “eu prefiro” se estende pelo tempo perpassando o momento da enunciação.

13. [São nesses pequenas coisas ... no dia-a-dia que a gente pouco percebe mas tá aí né? a discriminação ... o preconceito]
eu passei seis meses nos Estados Unidos que eu morei lá ... que quando eu fui prá lá eu num coẽcia assim ninguém eu me LEMBRO que a mĩa maior dificuldade era o recreio (...) (E Pa.F.3º)

14. [Você viu alguma coisa acontecendo assim com uma pessoa ... Ela sendo discriminada ... você consegue lembrar?]
num CONSIGO LEMBRAR mas com certeza eu já vi (...) (E Pa.F.3º)

15. [Conta o filme assim como um todo ... pra quem não assistiu]
O filme como um todo? fala assim da ... da cultura:: é ... egípcia ... deixa eu ver se eu me LEMBRO ... fala muito:: no estágio inicial ... no começo do filme fala sobre uma pessoa que fez uma coisa (...) (E.Pa.M.3°)

Observemos agora o uso dessas formas do verbo “lembrar”. No exemplo 13 a lembrança ocorreu no momento da enunciação, no exemplo 14, acontece que a entrevistada informa que não consegue lembrar de determinado fato, portanto, a constatação da incapacidade de lembrar se dá no momento da enunciação. Já no exemplo 15, podemos perceber como a construção sintática é capaz de impedir a simultaneidade, pois poderíamos marcar a lembrança ocorrendo no momento da enunciação se não fosse a expressão “deixa eu ver se...”, pois dessa forma não podemos afirmar que lembrança surgiu no momento em que ele fala sobre a tentativa de lembrar-se.

Vejamos outros exemplos:

16. [Ah aquele carro né? teve assim uma cena engraçada uma vez negócio de uma pintura que eles tavam ...]
ah SEI ... foi foi quando ele ...é metade do carro foi pintado de rosa né? (E.Pa.M.4ª)

[do quê que trata o filme? (Matrix)]
(...) liga o computador aí imediatamente o chipe aciona o coisa deles é o pensamento deles pra o computador aí eles lá ficam faz um bocado de coisa lá num SEI como assim explicar aprende artes marciais sei lá uma coisa que eles faz interessante umas coisas que ele faz lá. (E.Pu.M.4ª)

[pode contar algum caso? (decepção com algum amigo)]
POSSO deixa eu ver ... ah um deles era casado com uma prima minha (...) (E.Pa.M.8ª)

No exemplo 16, o entrevistador recorda de uma cena na novela Malhação e antes mesmo de terminar seu raciocínio é interrompido pela voz do informante que declara saber sobre o fato. Observando a espontaneidade da fala do garoto, podemos supor que ao constatar que sabia do que estava sendo falado, ele imediatamente expôs seu pensamento. Já na declaração 17, acontece o contrário, no momento da enunciação se dá a constatação de não saber explicar algo. No exemplo 18, a certeza sobre a possibilidade de falar sobre algo e a expressão dessa possibilidade também acontecem praticamente no mesmo momento. Nesses enunciados, o pensamento e sua expressão são separados por um tempo mínimo, pode-se dizer orgânico, que nos leva a considerá-los acontecendo no mesmo instante, caracterizando, assim, o tempo presente de fato. É importante atentar para a natureza não-ativa desses verbos.

2.2 Simultaneidade marcada por advérbios de tempo
Preocupando-se ainda com a expressão do presente de fato, alguns autores identificam no advérbio o traço temporal que resolve a variação temporal do presente. Corôa (1985, p. 45) considera que “geralmente é o advérbio de tempo o responsável pela expressão de simultaneidade”. Também encontramos em Corôa (1985, p. 44) que para Bartsch, “o presente só se manifesta lingüisticamente por meio de analíticos, ou seja, não é a forma de presente do verbo que localiza a ação com respeito ao sistema de referência, mas elementos como ‘agora’, ‘hoje’ etc”. Como nesse exemplo:

19. [Em relação à amizade, você tem muitos amigos... Você já se decepcionou com algum amigo?]
É, eu tenho muitos amigo né, eu sou uma pessoa muito extrovertida, falo com todo mundo... e decepcionar que eu me lembre... NESSE EXATO MOMENTO eu não ME RECORDO se eu decepcionei alguma decepção é de amigo (que tenha marcado) é que tenha marcado. (E.Pa.F.8ª)

Porém, em alguns momentos percebemos que a marca temporal do advérbio não expressa simultaneidade.

20. [como é esse grupo lá, vocês fazem o quê?]
(...) um dia desse eu terminei de ler foi no dia doze que eu terminei (?) tem uns assim que VÃO AGORA pro grupo dos Cânticos AGORA VOU para outros grupos lá tem muitos grupos. (E.Pu.F.4ª)

[e com seus irmãos? (como é o relacionamento)]
(...) uma casou e o outro VAI CASAR AGORA (...) (E.Pa.M.8ª)

Nesses dois usos do advérbio “agora” percebemos que apesar dos informantes fazerem uma ancoragem do presente, o tempo não se restringiu ao presente de fato, mas está sim indicando um futuro próximo marcado pelo advérbio “agora”. Sabe-se que a perífrase verbo auxiliar no presente + verbo principal no infinitivo pessoal indica futuro, que é o caso do exemplo 21. Porém, no exemplo 20, além de não termos uma perífrase de futuro, há um advérbio indicando tempo imediato, mas ainda sim é possível verificar o sentido de futuridade nessa fala, esse sentido pode ser causado pela semântica do verbo “ir”, que indica movimento para frente, progressão, o que provoca uma extensão de temporalidade do “agora”.

A semanticidade do verbo “ir” permite que o presente seja utilizado com a idéia de futuro, principalmente quando está dentro da perífrase verbo auxiliar no presente+verbo principal no infinitivo. Vejamos:

22. o que você acha que poderia se fazer pra melhorar essa situação? De quem é a culpa disso?
(...) essa coisa de criança trabalhar na escola por causa que se é oh de criança trabalhar purque se ele num estudar no futuro ela o que ela VAI FAZER É muito poco do quela VAI CONSEGUIR (E.Pa.M.4ª)

23. qual a importância do estudo pra você Ewerton?
pra mim quando eu crescer ele VAI SERVIR muito pra mim assim ... (E.Pa.M.4ª)

tu acha que o desemprego hoje é culpa de pessoas que não tem tanto conhecimento é culpa do governo ou é uma junção?
(...) agora eu fico me perguntando como é que cozinheiras auxiliares de enfermagem que trabalham a vinte anos ou mais estão sem istudar ... como é qui essas pessoas VÃO SE PREPARAR pra outro concurso pra entra onde já estava

3. O presente marcado pelo gerúndio

Mesmo as construções do presente com locuções verbais de auxiliar + gerúndio, “estou sentido”, “vou falando” etc nem sempre conseguem situar o fato no momento restrito da enunciação.

25. [e você prefere lecionar ou você prefere trabalhar?]
eu prefiro assim ... trabalhar assim ... eu num prefiro lecionar por isso eu TÔ FAZENDO biologia não tanto pra mim lecionar e:: ... pra na biologia assim pra mim não lecionar aí eu TÔ FAZENDO mais é pra ajudar pra fazer o curso de medicina lá:; na frente (...) (E.Pu.M.3º)

26. [E em relação à violência, o que você tem a dizer? É um problema que está bem complicado no Brasil não é e no mundo também queria que você fizesse algum comentário]
(...) o pessoal está muito sei lá, sei nem explicar, acho que sem Deus assim no coração, muita violência, muita briga, morte, sem mais nem menos o pessoal está aqui e por causa de um tênis, por causa de um boné ESTÁ MATANDO, ESTÁ ATIRANDO, ESTÁ FAZENDO tudo de mau (...) (E.Pa.F.8ª)

No exemplo 25, a locução dá a idéia de algo que realmente está acontecendo, mas não necessariamente no momento da enunciação, há a extensão do tempo ou seja, da noção de presente. Já a outra sentença, comunica algo que acontece com facilidade e não que esteja acontecendo no momento em que ela fala, há uma idéia de habitualidade.

4. Simultaneidade extensiva
4.1 Presente perpassando o momento da enunciação


Nos corpus analisados, a forma verbal do presente do indicativo, nas muitas vezes em que aparece, remete a fatos que já estavam acontecendo antes do MF, que ainda estão acontecendo durante o MF e continuarão a acontecer depois do MF por um tempo que muitas vezes não se pode limitar. Corôa (1985, p. 45) afirma que “o presente gramatical não se reduz, portanto, ao momento da fala, mas a uma fração de tempo que inclui o momento da fala”. É nesse sentido de ampliação do tempo presente para antes e depois do momento de enunciação que analisamos uma grande parte dos verbos registrados, tendo em vista que esse comportamento na duração do tempo verbal encontra suporte teórico dentro da aspectualidade verbal.

27. Por que você acha que não aconteceu? (o dilúvio)
eu num sei só que eu não ACREDITO ... meu pai também não ACREDITA (E.Pa.F.4ª)

28. fazia tanta questão de votar em alguém que tem uma certa descrença.
TEM uma certa descrença é ... Não BOTO muita fé nesses políticos não (E.Pu.M.8ª)

E em São Paulo ... qual foi assim os lugares que você conheceu que te chamou a atenção?
(...) eu fiquei na casa da ... da amiga da minha tia que ficava na casa de uma pessoa lá que eles FAZEM parte do grupo Folclore ... e gostei muito de São Paulo (E.Pa.M.4ª)

Todos esses verbos perpassam o MF em uma ampliação do tempo presente para momentos anteriores e posteriores à declaração.

4.2 Presente atemporal

A forma verbal do presente do indicativo também é capaz de expressar fatos para os quais não há a possibilidade de se marcar um tempo exato. Nesse sentido temos as verdades universais como “A terra gira em torno do sol”, os provérbios, “Macaco velho não mete a mão em cumbuca” e outras situações de fala que expressam fatos arraigados em nossa mente como se fossem verdades pré-concebidas, nas quais toda a sociedade acredita e defende independente do momento em que se fala, por exemplo, “O governo não faz nada pelos pobres”. Em nossos estudos, observamos essa última perspectiva de situações comuns na fala.

[O que tu acha dessa ascensão da mulher acha que é benigno tem algum ponto positivo algum ponto negativo?]
É ótimo porque eu acho que a mulher ela TEM o mesmo raciocínio que o homem (...) ela já TEM a mente mais amadurecida do que o homem então eu acho que ela TEM capacidade de fazê tudo o que o homem e FAZ ainda de salto (E.Pu.F.8ª)

31. [Que qualidades deve ter uma pessoa para ser considerada uma boa pessoa?]
o melhor amigo ele... ele não BRIGA ele não DISCUTE ele É uma pessoa legal (...) (E.Pa.M.4ª)

Os exemplos 30 e 31 possuem característica de definição, o que conduz, ainda mais, o falante a expressar esses verbos na forma do presente gramatical, pois o conceito de algo se dá na forma do presente do indicativo.

[o que é um amigo para você?]
ah um amigo pra mim é aquele que CONVERSA com ele se chamar pra pra ir pra um lugar aí ele VAI na hora de uma precisão (...) (E.Pa.M.8ª)

33. [a utilidade a criar uma imagem boa e criar a função daquele produto mesmo que ele não sirva pra nada mas através da propaganda ele tem uma função aquele produto]
pois isso a a gente aqui no Brasil país quente e tudo a gente... VIVE igual os americano só USA calça ... tipo assim o estilo de vida americano tudo por causa da propaganda propaganda (E.Pa.F.3º)

34. [e como é que você vê o ensino público?]
(...) no colégio particular se você ver no primeiro dia de aula já TEM todos os professores e TEM uma pedagoga que FICA direto andando no colégio andando num DEIXA nenhum aluno fora aqui não aqui FICA aluno gazeando ali num TEM nenhuma pedagoga pra ficar virando direto o aluno já em colégio particular não em colégio particular num ACONTECE isso (...) (E.Pu.F.3º)

Os verbos marcados expressam pensamentos difundidos na sociedade que sempre quando são abordados se apresentam da mesma forma. É importante frisar que eles não estão expressando verdades universais, pois são questões culturais que podem ser diferenciadas em outros lugares e também podem mudar a qualquer momento dentro de uma situação incomum de mudança social. No sentido de ser o tempo responsável pela localização temporal do fato, consideramos esses verbos atemporais, pois não há localização desses acontecimentos num tempo exato ou mesmo amplo. Levando em consideração o contexto das sentenças em que esse tipo de expressão da forma verbal do presente indicativo acontece, observamos sua grande freqüência em textos opinativos, pois são frutos da observação.

5. Presente em narrativas

Em todos os gêneros textuais os que mais se destacaram quanto ao uso da forma verbal do presente do indicativo foram a narração e a descrição. Temos uma narração quando contamos uma história com fatos passados ou fictícios que contenham ações seqüenciadas cronologicamente, um encadeamento dos fatos. Uma característica da narração é ser apresentada geralmente em ações verbalizadas no pretérito perfeito ou imperfeito. No entanto, existem momentos em que os falantes optam por expressar histórias, reais ou fictícias, no presente gramatical. Bechara (2001, p. 276) considera esse tipo de narração “animada e seguida (presente histórico), como para dar a fatos passados o sabor de novidade das coisas atuais”. E diz que os verbos na forma de presente gramatical existentes nessas narrações estão sendo empregados no lugar do pretérito. Seria, portanto, o presente gramatical indicando o tempo passado. Dentro de histórias reais é mais incomum o uso do presente gramatical, pois os falantes, ao contarem algo que aconteceu com eles ou com outras pessoas próximas a eles costumam detalhar bastante os acontecimentos, o que os leva a optar pelo pretérito que esclarece melhor a seqüência de fatos. Pelas análises, podemos perceber que o uso da forma verbal do presente em narrações de fatos reais é explicado pela opção do falante em causar um impacto no interlocutor, levando-o a sentir-se no momento exato que o fato aconteceu.

[conta pra gente como foi? (viagem a Parnaíba)]
quando deu assim umas cinco seis horas eu acordei (...) aí eu olhei aí eu perguntei pro meu pai se aqui já era Luis Correa aí ele disse que É e eu fiquei mais ansioso pra chegar (E.Pa.M.4ª)

Perceba neste exemplo, além do verbo “é” marcado, o advérbio de lugar “aqui”. É como se o informante se transportasse para o lugar e o tempo exato em que a situação narrada ocorreu.

36. [Qual foi assim essa situação? (situação de susto ou perigo)]
(...) ele foi querer pegar a chuva que tava sentado num ( ) carro ... a rua tava toda... encharcada ... aí ele queria pegar ... só que veio ( ) um caminhão quase que ATROPELA ele e pedindo pra ele sair de perto pra ele sair de perto só que num... num saía de perto aí depois que eles trancaram o portão (E.Pa.M.4ª)

Já no caso das narrativas fictícias, o presente gramatical surge quando ao narrar algo, o informante não queira entrar nos detalhes da obra, narrando-o superficialmente. A isso devemos atribuir que a informação, consciente ou não, de que o um livro ou um filme vão sempre falar sobre as mesmas coisas em qualquer que seja o momento, pois não sofrem, comumente, qualquer tipo de mudança. São criados para serem atemporais.

37. [Mas ela era índia?]
Índia ... Falava sobre os índios ... Aí ... na tribo dela ela era a guardiã da bebida de Jurema ... Aí ... no decorrer da história ela ACABA se APAIXONANDO por um português que é Martin parece ... Martin ... eu num lembro direito ... Aí eles dois se APAIXONAM ...ela era muito ágil ... Ela ... por ser índia conhecia as matas ... O livro é todo cheio de detalhes ... é:: ... muito descritivo ... Você ... pela descrição você imagina detalhadamente ... Aí no decorrer da história TEM a briga entre a tribo dela e outra tribo que eu num lembro qual é o nome ... ACABAM MORRENDO muitos guerreiros ... E antes da guerra ela até aos guerreiros ... seus guerreiros a bebida né? que parece que muita força ... força total ... alguma coisa assim ... Eu sei que assim quase no final eu lembro que ela MORRE e ele a ENTERRA ... não ... ele VOLTA pra Portugal ... Quando ele VOLTA ele DESCOBRE que ela tava grávida e TEM um filho dele que É Moacy até ... que o nome é filho do sofrimento ... Aí ... Ela MORRE parece que no parto ... e ... logo depois ele a ENTERRA ela embaixo das fo/ ... embaixo de um pé de maracujá ... Aí ele DIZ pra ela que perfeitamente o cheiro das folhas ... das flores do maracujá ... Achei MAssa! (E.Pa.M.3º)

[Você quer contar a história pra mim?]
conto. A história é FALA a seca né, no Nordeste aí TEM o Ataliba e a mocinha que É a Teresinha e SE APAIXONA, é ele PEDE a mãe dela em casamento e depois a seca COMEÇA A CHEGAR, o pessoal COMEÇA A PROCURAR lugares que não tenha seca, aí eles... COMEÇAM A IR né, só que ela, a tia da Teresinha, FICA, não estava querendo ir aí ele insiste, ai ela VAI ela ADOECE, a tia da Teresinha MORRE e então eles VÃO, ai no final de tudo ela MORRE também, a Teresinha, ele MORRE, picado de cobra, lá É um romance, um romance meio triste assim né. (E.Pa.F.8ª)

[você poderia contar um episódio que você gostou muito, que você assistiu do Tom e Jerry?]
é:: PODE SER filme ... é que um dia é eles pegaram tavam na casa ... aí:: o Jerry era um rato ele tĩa feito uma casinha lá na casa do dos do Tom que era o gato aí:: o dono dele se mudaram aí o Jerry foi coisando aí o Tom foi correr atrás do Jerry aí ... o caminhão foi simbora ... aí eles voltaram pra casa dele aí voltaram e dormiram lá aí:: pegaram pegou o ... parece que a prefeitura foi destruir a casa pra fazer outra coisa aí ... ia pegando eles eles tavam correndo desesperado aí depois eles viveram na rua uns dia conheceram outros amigo que era um gato e um gafanhoto parece aí depois ele conheceu uma menina chamada (?) aí ela quis levar ele pra casa deles só que a tia dela era rica milionária só que ela era muito má ... que até ela viu a (?) ficava fora de casa porque ela maltratava ela aí ela fugia de casa ... ela só queria ela porque ela por causa da fortuna que ela pensava que o pai dela tĩa morrido numa riban// numa avalanche de rio ... aí descobriram que é ele num tĩa morrido ele tava vivo ... aí o Tom o Jerry tava escutou essa história que ela ele ela recebeu um telegrama aí ela jogou no fogo aí o Jerry correu ... é pegou logo antes que pegasse fogo nele tudo ... aí eles tentaram levar pra Robi só que a ela viu e mandaram eles pra um zoológico que tĩa um homem que ele criava animal só que ele era ruim ... aí como o Jerry era um rato aí ele era pequeno aí ele passou entre as grade aperto num botão lá tudinho do sistema aí abriu as grades aí eles fugiram contaram pra Robi e a Robi fugiu num barco ela cheg// quando ela chegou nũa casa que o:: pai dela morava a Ro// a tia a tia dela é ela suspeitou que eles tĩa dito pra ela que o pai dela tava vivo aí ela foi pra cabana ficou esperando ela chegar quando ela chegou aí ela viu ela aí elas tĩa lá um lampião aí ele caiu no chão pegô fogo na casa aí quando o pai dela chegou na cabana a fia dele tava morrendo aí ele pegou ela e o Tom e Jerry aí a casa desabo e eles ficaram nos escombros aí ela ficou chorando aí contaram ele eles lá aí eles pegaram e viveram nũa casa lá e acabou. (E.Pu.M.4ª)

Registramos esse exemplo para mostrar a riqueza de detalhes que o informante da 4ª série dá sobre um desenho animado que ele assistiu. Todos os verbos da narrativa estão no pretérito perfeito, pois devido a tantas ações, somente no pretérito a organização delas dentro da narrativa ficaria mais visível. Agora, observe que o mesmo informante ao falar do filme Matrix e do Auto da Compadecida não se sente à vontade com os detalhes e narra essas duas histórias mais superficialmente.

[do quê que trata o filme? (Matrix)]
ele TRATA de:: uns homem sei lá ele PEGA eles (?) um chipe no celebro deles aí:: o celebro deles É assim eles VIAJAM em computador assim através do chipe por exemplo ele eles ESTÃO lá no mundo deles né aí DEITA eles nũa cama assim aí:: LIGA o computador aí imediatamente o chipe ACIONA o coisa deles É o pensamento deles pra o computador aí eles lá FICAM FAZ um bocado de coisa lá num sei como assim explicar APRENDE artes marciais sei lá uma coisa que eles FAZ interessante umas coisas que ele FAZ lá. (E.Pu.M.4ª)

41. [teve outro filme além do Matrix que você assistiu, que você gostou muito?]
a:: Auto da Compadecida muito engraçado ... aí eu gosto dele também ... ele FALA É de uma na cidade lá Pernambuco sei lá pobre né aí eles pegam FICAM eles TA lá aí TEM o Chicò e outro lá aí aí eles SÃO um pouco interesseiros aí eles pegam e FAZEM tudo assim é:: se puder pra ganhar um pouco de dinheiro acho que eles eram pobre e também num tinha dinheiro pra comer. (E.Pu.M.4ª)

6. Presente em descrições
No âmbito do texto descritivo, é muito comum o aparecimento do presente gramatical, pois devemos considerar que as características de um lugar, de uma pessoa ou situação são estáveis por muito tempo, ou quiçá, nunca sofrem mudança. Dentro dessa categoria de texto, diferenciamos um tipo de descrição que denominamos descrição ilustrativa, que surge quando o entrevistado, geralmente ao emitir uma opinião, explica algo por meio da descrição de alguma situação imaginativa.

42. [como é lá? (viagem ao interior)]
É bom assim um lugar mais (?) cidade É diferente lá É mais um ar mais puro agente não ESCUTA assim esse barulho que TEM aqui lá É cheio de árvores (E.Pu.F.4ª)

43. [E assim ... como era a escola lá ?]
ginásio dividia o ginásio enorme abria... só você vendo mesmo biblioteca num SEI quantos computadores... que lá TEM\ o aluno não COMPRA o livro... a escola TEM um livro pra cada aluno tudo conservado encapado... é ar condicionado central tudo assim do melhor num tem... agora o ensino o ensino tipo assim de lá não É tão puxado como daqui... agora eu acho certo porque... aqui assim a gente ESTUDA muita muita coisa assim um estudo puxado quando você passar um tempo você num LEMBRA mais de nada... lá não você ESTUDA mais assim o básico... coisa que você realmente TEM que saber... e você ESCOLHE a matéria que você quer né?... aprendi muito mais do que aqui onde você TEM que estudar esforçada e às vezes nem ESTUDA ... DECORA né? e ESQUECE tudo

Essas são descrições de lugares e situações reais. Vejamos agora alguns casos de descrição ilustrativa.

44. [Você sabe o que é reencarnação?]
É assim ... A pessoa MORRE:: e depois se ela num teve assim ... uma vida totalmente realizada pra ela ... ela VOLTA ... ela REENCARNA ... ela ENCARNA noutro corpo e ... muitas vezes assim ela TEM uma idéia ... vamos dizer ... tipo um conhecimento que ela já tinha e ... TEM possibilidade assim ... de desenvolver como pessoa ... já que ela já foi aquela pessoa mais:: passou a sê essa atual ... por exemplo. (E.Pa.M.3º)

45. [qual a sua opinião a respeito das crianças que estão fora da escola, estão trabalhando?]
eu entendo assim desse assunto ... que eu acho que elas TRABALHAM porque num SEI o pai e mãe SÃO doente aí acho que elas TRABALHAM ou então TÃO na muita pobreza a mãe TÁ PROCURANDO arrumar emprego num CONSEGUE aí ele aí a mãe e o pai eles VÃO VENDER coisa né (...) (E.Pu.M.4ª)

46. [Qual a diferença entre ficar e namorar que a gente não entende assim muito bem?]
O ficar que eu entendo né, é:: por exemplo, você VAI numa festa CONHECE um garoto, TEM aquela atração momentânea né, então você FICA naquela festa, naquele momento, naquelas horas com ele, e o namorar na, se bem que o namorar cem do ficar né, você FICA uma vez, duas vez, três vez e COMEÇA a namorar, um mês, dois meses, aí VAI o namoro né

A descrição ilustrativa possibilita que se fale sobre uma situação, como se todas as pessoas a realizassem ou sofressem sua experiência. O verbo na forma gramatical do presente do indicativo torna o enunciado atemporal e geral. Nosso objetivo nesta análise foi fazer a descrição dos usos da forma verbal do presente do indicativo, levando em consideração sua temporalidade e aspectualidade, como já foi dito anteriormente. No percurso da análise, destacamos como pontos principais do comportamento do presente gramatical na fala, a difícil ocorrência da forma verbal do presente representando o tempo presente, uma vez que esse tempo possui um caráter extremamente amplo e, por vezes atemporal, para suas ações, mesmo quando ancorado em advérbios de tempo imediato. E perceber que o valor semântico dos verbos influencia grandemente essa análise da temporalidade e da aspectualidade. Pretendemos, a partir desses resultados, elaborar um quadro comparativo das semelhanças e diferenças que marcam o uso das ocorrências verbais do presente do indicativo, levando em consideração os usos semânticos de alguns verbos de nossos dados.


PARECER DA ORIENTADORA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO E SOBRE O RELATÓRIO

A bolsista Léa Mara desenvolveu o projeto Uma análise das condições de uso do presente do indicativo no português falado por teresinenses do ensino fundamental e médio com bastante seriedade, mostrando uma sensibilidade acadêmica para a pesquisa. Demonstrou essa seriedade no levantamento dos dados, nas leituras e nas observações relativas aos dados levantados.
Tendo em vista seu desempenho nas atividades do projeto, refletido positivamente na elaboração do relatório, posso atestar que a aluna correspondeu aos objetivos do programa.

Maria Auxiliadora Ferreira Lima
Orientadora do Projeto

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRONCART, Jean-Paul. Atividade de Linguagem, textos e discursos. São Paulo: EDUC, 1999.

BORBA, Francisco S. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: Ática, 1996.

CORÔA, Maria Luíza. O tempo nos verbos do português: uma introdução à sua interpretação semântica. Brasília: Thesaurus, 1985.

LIMA, Maria Auxiliadora Ferreira. A temporalidade verbal no processo de construção Referencial: uma análise. In: BRANDÃO, Saulo Cunha de Serpa; LIMA, Maria Auxiliadora Ferreira (Org.). Ensaios reunidos: coletânea do Mestrado em Letras. Teresina: Halley, 2005.

RODRIGUES, Ângela C. S.; CAMPOS, Odette G.L.A.S.; GALEMBEK, Paulo de T.; TRAVAGLIA, Luís C. Formas de pretérito perfeito e imperfeito do indicativo no plano textual discursivo. In: KOCH, Ingedore G. Villaça (Org.). Gramática do português falado. Vol. VI. Campinas: FAPESP, 1996.

TRAVAGLIA, Luís Carlos. O aspecto verbal no português. Uberlândia: EDUFU, 1994.

Usos do Pretérito Perfeito e Imperfeito no Português Falado por Teresinenses

Projeto de Pesquisa desenvolvido em 2004 quando fui bolsista do PIBIC (Programa de Bolsa de Iniciação Científica) pela UFPI, sob orientação da professora doutora Maria Auxiliadora Ferreira Lima.


INTRODUÇÃO

Neste relatório procuramos mostrar as conclusões da pesquisa <<>>. Esta analisa a realização do tempo verbal situado como anterior ao momento da enunciação expresso pelas manifestações dos pretéritos perfeito e imperfeito do indicativo em produções lingüísticas orais. Trata dos usos temporais e aspectuais dessas formas verbais na fala de teresinenses que cursam as últimas séries do ensino fundamental (4ª e 8ª) e do ensino médio (3ª) detectados nos dados coletados. Esses dados nos proporcionarão uma visualização das condições de uso desses respectivos tempos por falantes que estão em contato com o ensino formal do emprego dessas formas verbais.

Neste relatório apresentamos uma exposição de nossos objetivos e o modo como a pesquisa se concretizou, os resultados adquiridos e as conclusões.

Mostraremos como resultados a quantificação das ocorrências levantadas e teceremos considerações referentes às observações dos dados sustentadas em teorias de estudiosos da área. Este relatório contém ainda uma comparação do programa inicial com tudo o que foi possível de se efetuar, trazendo informações sobre o que mudou e o que não foi realizado. Fazemos também um breve comentário sobre algumas leituras realizadas destacando a contribuição das mesmas para o direcionamento da pesquisa.


OBJETIVOS

A pesquisa tem como objetivo analisar aspectos da gramática do português falado por teresinenses que se encontram nas últimas séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

Estabelecer um quadro das formas verbais utilizadas no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo, tendo em vista o tipo de gênero textual em que se manifestam as ocorrências, identificar os usos semânticos das ocorrências verbais utilizadas no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo; estabelecer um quadro comparativo das semelhanças e diferenças que marcam o uso das ocorrências verbais no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo na fala dos alunos de escolas da rede pública e privada, considerando a variável nível de escolaridade (4º e 8º séries do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio) e identificar as marcas de aspectualidade nas formas verbais do pretérito perfeito e do imperfeito do indicativo.

Com os resultados desse estudo, obter-se-á um quadro dos reais usos do pretérito perfeito e imperfeito do indicativo e um banco de dados lingüísticos que representem efetivamente aspectos da gramática do português falado por teresinenses que se encontram em processo de aprendizagem do ensino formal da gramática.


METODOLOGIA

Esta pesquisa faz parte de um projeto-núcleo que tem como um dos objetivos básicos a descrição de aspectos da gramática do português falado por teresinenses. Trata-se de uma pesquisa de natureza investigativa que requer a construção de um “corpora”, ou seja, de um conjunto de dados lingüísticos textuais,originários da amostra da produção lingüística oral de um conjunto de informantes.

Assim, para o desenvolvimento dessa pesquisa estamos fazendo uso do “corpora” do projeto-núcleo que está sendo constituído através das gravações (em andamento) da fala de 96 informantes, alunos da 4º e 8º séries do Ensino Fundamental e da 3º série do Ensino Médio. As gravações estão sendo feitas em 4 escolas da rede pública e 4 da rede privada. De cada escola está sendo realizada, por série, uma gravação de sessenta minutos da fala de 4 informantes (2 do sexo feminino e 2 do sexo masculino), na faixa etária entre 10 a 20 anos, perfazendo um total de 96 informantes. Mas para este projeto, estamos trabalhando com a amostra da fala de 24 informantes.

Para as gravações está sendo utilizado um sistema de entrevistas “não estruturadas” que favorece um contato mais formal entre entrevistador e informante, possibilitando um discurso mais contínuo. Quanto ao estabelecimento das variáveis, utilizamos as mesmas do projeto-núcleo. Consideramos os seguintes fatores: nível de escolaridade, natureza da escola (pública e privada) e sexo.

Para a pesquisa, selecionamos 24 entrevistas já transcritas e correspondentes a amostra da fala de 24 informantes distribuídos por escola pública e particular e por série (4º, 8º, e 3º ano) e por sexo (de cada série um casal). Fizemos a leitura de cada corpus e extraímos as ocorrências verbais no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo. Quantificamos as ocorrências e obtivemos um total de 2.771 formas verbais no pretérito perfeito e 1.331 no pretérito imperfeito. Após o levantamento das ocorrências demos início à análise dos dados tendo em vista os usos semânticos de categoria de tempo e aspecto. Para as análises estabelecemos também a correlação entre os usos lingüísticos dos respectivos tempos em análise e as variáveis sociais – grau de escolaridade, natureza da escola e sexo.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em português o tempo passado subdivide-se em pretérito perfeito, imperfeito e mais que perfeito. O pretérito perfeito situa o fato num intervalo de tempo anterior ao momento da enunciação (Maria viajou para Lisboa), o pretérito imperfeito situa o fato em um intervalo de tempo simultâneo ao passado ou anterior ao futuro (Maria costurava para as amigas; Maria saberá que seu filho estava na casa de um amigo), e o pretérito mais que perfeito situa o fato em um intervalo de tempo anterior ao passado (Maria nos informou que entregara a encomenda ao porteiro).Como resultados do projeto, podemos mostrar a quantificação das ocorrências de uso do pretérito perfeito e imperfeito levantadas com 24 alunos das 4º e 8º séries do ensino fundamental e 3º do ensino médio de escolas das redes pública e privada.





Esta tabela contém os resultados gerais do número de ocorrências dos pretéritos perfeito e imperfeito do indicativo, considerando a série e a natureza da escola. A análise desses verbos quanto ao gênero textual, à expressão temporal e à aspectualidade permitiu a elaboração de uma tabela descritiva dos usos do pretérito perfeito e imperfeito no português falado por teresinenses, na qual podemos visualizar os resultados quantitativos desta pesquisa.



GÊNEROS TEXTUAIS

Estão divididos em: expositivo informativo, narrativo, descritivo, expositivo opinativo e injuntivo, considerados a partir do conceito e divisão retirados de Koch (1996), mas os quatro últimos são propostos por Travaglia.

O que viemos a chamar de expositivo informativo não é proposto pelo autor, mas, como se percebe pela tabela, é um gênero muito presente nas situações de comunicação oral. Ele se refere a fatos, seqüenciados ou não, que não chegam a constituir uma história apontando para possibilidade de uma narração não história.

qual foi o último filme que você assistiu?
1.E. Pri. M. 3º F. olha o último filme que eu assisti foi com a mamãe dia das mães deixa eu me lembrar qual foi X-MAN... foi com ela que eu assisti esse filme por sinal muito bom gostei muito

além da academia... tu pratica algum esporte?
2. E. Pri. J. 3° F. não eu fazia natação mas pa// eu parei por causa do colégio aí eu to fazendo só academia mermo

você lembra como foi? o que ele fez? ( briga com o amigo)
3. E. Pub. L. 4ª M. a gente tava brincando né aí era eu e ele com ôtra irmã dele e uma prima deles aí era minha vez de jogar a bola aí ele pegou aí ele empurrou a bola pro campo delas aí eu larguei a mão nas costa dele (...)

existe alguém assim que você admira e por que essa admiração?
4. E. Pri. B. 4ª M. (...) gosto muito de da área da ciência Albert Einstein e aquele cientista que agora eu esqueci o nome que descobriu a teoria dos homens do macaco evoluiu humano agora esqueci o nome... Charles eu admiro muito ele (...)

Observamos que nestas amostras da fala, os verbos marcados indicam, simplesmente, alguma informação, seja em relação ao próprio falante ou ao que ele está dizendo. Verbos classificados nesse gênero podem ser usados para responder objetivamente uma pergunta, como nos exemplos 1 e 2; podem servir de apoio aos eventos de uma narração como exemplifica o trecho 3, em que o falante, antes de começar a contar a briga com o amigo, contextualiza a mesma para informar ao entrevistador as circunstâncias nas quais ela aconteceu. No último exemplo, o entrevistado informa algo sobre si próprio que ocorre no momento da fala “um esquecimento” e ainda marcamos o expositivo informativo em dois verbos referentes a fatos históricos citados superficialmente, sem constituir uma narração. Note que a retirada de um desses verbos, ainda que cause estranheza, não é capaz de comprometer a compreensão da mensagem.

A narração não é só um “contar um fato”. Para que ela exista efetivamente é necessária a existência de uma seqüência cronológica, um encadeamento de eventos. Podemos compreender isso retornando ao exemplo 3 e observando a continuação do relato da briga entre o informante e seu amigo.

(3). a gente tava brincando né do queima aí era eu e ele com outra irmã dele e uma prima deles aí era minha vez de jogar a bola aí pegou aí empurrou a bola pro campo delas aí eu larguei a mão nas costa dele... aí a mãe dele viu né aí eu saí assim com raiva e passei um mês sem ir na casa dele... aí depois ele pediu pra que eu fosse lá aí eu fui

Vimos anteriormente que os verbos “tava”, “era” e “era” são expositivos informativos e que contextualizam a história propriamente dita, que vem logo em seguida. E observamos que todos os verbos agora marcados estão dentro de uma seqüência lógica e cronológica, sendo que a retirada de um deles, certamente, mudaria a compreensão da história, pois indicam eventos que não podem ser suprimidos.

Uma característica muito importante da narração e que pode ser vista ainda no exemplo 3 é a predominância do pretérito perfeito de indicativo em relação ao pretérito imperfeito. Travaglia, na Gramática do português falado, diz que Hopper explica essa diferença. Hopper afirma que, em qualquer situação de fala, algumas partes do que é dito são mais relevantes do que outras. A parte do discurso que corresponde aos pontos principais (a complicação) é chamada de figura ou 1º plano (foreground). O 1º plano é dinâmico, ativo e forma a linha principal da narração. Em nossa pesquisa percebemos que a maior parte dos eventos que constituem o núcleo da narrativa, a complicação, são verbalizados na forma de pretérito perfeito, que sinalizam fatos passados com relação ao momento da fala, todos como efetivamente ocorridos, acabados, cronologicamente ordenados uns em relação aos outros.

A outra parte do discurso corresponde ao fundo ou 2ª plano (background) e não contribui imediato e decisivamente para os objetivos do falante, mas que meramente os amplifica, especifica ou comenta. O 2º plano é o material de suporte para os eventos narrados em 1º plano. Neste trabalho o pretérito imperfeito foi considerado em grande parte o componente do 2º plano. Ele é o pano de fundo para os acontecimentos relatados, acontecendo no mesmo momento que os eventos do 1º plano. Esta constatação é válida para todos os gêneros textuais. No trecho abaixo os verbos que contam a complicação da história estão sublinhados, enquanto os que compõem o pano de fundo da mesma estão em itálico.

conta uma historinha pra eu lembrar minha infância
5. E. Pri. T. 4ª F. ô a Rapunzel ela é... tinha um casal né aí o nome da mulher era Raquel e do homem era João aí né eles moravam numa casa que ao lado tinha uma bruxa que morava lá aí a mulher viu os rabanetes lá no quintal da casa da bruxa aí ela disse que ficou com o maior desejo de comer rabanetes aí o marido foi pegar pra ela aí a bruxa apareceu bem na hora e disse que deixa o João levar os rabanetes mas quando a filha deles nascesse ela ia levar pra bem longe e eles nunca mais iam conhecer ela aí a bruxa levou né pra um castelo ela cresceu lá o cabelo dela ficou grande ela fazia um monte de tranças (...)

Os verbos em pretérito imperfeito estão marcando a existência de um casal e uma bruxa, informando os nomes dos cônjuges, o grau de vizinhança entre os personagens e um comentário sobre o cabelo de Rapunzel. Nenhum deles é determinante para a história; diferentemente das ações expressas em pretérito perfeito, que são o cerne da narração. Há, no entanto, duas formas verbais no pretérito imperfeito que estão dentro do 1º plano, “ia” e “iam”. Isso pode ser explicado pelo fato de que elas não indicam passado e sim futuro do pretérito. A temporalidade verbal dos pretéritos será explicado mais adiante.

Considerando a coluna total da segunda tabela, vemos que o pretérito imperfeito só é predominante no gênero descritivo. A descrição sugere características de alguma coisa em observação e é muito utilizada para dar suporte a narração. O que vai ao encontro de uma das funções do pretérito imperfeito, que é dar informações adicionais, secundárias e que podem ser suprimidas.

tem alguma história que tenha te marcado?
6. E. Pri. L. 8ª F. (...) um livro sobre a história de um garoto de um ex-drogado que se envolveu no mundo das drogas através dos próprios amigos... e ele era um garoto de uma família muito rica (...) ele começou por influência dos amigos por pre//... pressão da turminha e... ele começou duma droga digamos assim leve e foi passando foi passando no final ele tava dependente de... de cocaína e a família dele... mesmo com dinheiro não conseguia tirar ele desse caminho ele foi pra uma clínica de tratamento (...) ele sofreu muito na clínica porque ele tinha solidão... ele era sozinho (...)

As características do personagem são todas feitas em pretéritos imperfeitos, que firmam sua existência amarando-se às formas verbais perfeitas.
Apesar de, na maioria das vezes, a forma imperfeita manter seu caráter secundário, é perfeitamente possível que ela seja usada para narrar uma história verídica.

você acha que o trabalho infantil atrapalha a vida escolar?
7. E. Pub. R. 8ª M. não tendo o horário distribuído (...) é assim que eu fazia lá em casa eu chegava do colégio de manhã e ficava no comércio a mãe ia fazer o almoço ela voltava pro comércio eu ia estudar de uma às três e das três em diante eu ficava no comércio

Nesta narração, toda construída com o pretérito imperfeito, todos os verbos (exceto “fazia”) são de 1º plano e remetem a uma habitualidade dessas ações no passado. Mas esta é realmente uma construção rara no “corpora” analisado.
O gênero expositivo opinativo refere-se a um conjunto de idéias a respeito do que está sendo observado.

o que você ta achando desses primeiros cem dias de governo?
8. E. Pub. L. 3º F. eu tô achando melhor do que o presidente FHC fazia porque o presidente Lula ele ta trabalhando muito aqui na área nacional enquanto o FHC trabalhava mais internacionalmente (...) já o Lula né já veio pra cá pro Piauí já fez muita coisa eu acho que ta sendo um dos melhores presidentes

quem é Deus para você?
9. E. Pri. L. 8ª F. (...) eu vejo aquela história que Deus existiu que foi crucificado que ele ressuscitou ao terceiro dia aquilo ali pra mim não existe num teve até mesmo por comprovação científicas que existem aquilo alí pra mim não teve (...) num teve um Deus.. Deus nunca foi assim a Maria nunca teve Deus sem o ato do sexo com outro homem (...)

qual é análise que você faz daqueles atentados do onze de setembro?
10. E. pub. R. 8ª. M. achei bem feito porque além deles quererem mandar eles nunca souberam o que é terror de verdade numa guerra

Nas 3 amostras temos a ocorrência de orações dissertativas. São orações dentro do discurso que emitem alguma opinião.

Outro gênero encontrado na comunicação oral é o injuntivo, que sugere uma ação requerida, desejada, incita a realização de uma ação, dizendo o que e/ou como fazer.

Como é que você ta vendo a televisão hoje?
11. E. Pri. R. 8ª F. ói já foi melhor... minha gente programa sensacionalista é o que mais existe (...) e o pió... tem audiência (...) pra mudar essa situação o povo devia deixar de assistir isso buscar programas culturais (...)

como você vê a respeito do idoso hoje no Brasil?
12. E. Pri. R. 8ª F. nossa é um absurdo eu fico indignada com essa situação (...) atualmente o idoso ele ta sendo muito maltratado e:: devia ter... uma vi// é uma reflexão sobre isso os idosos eu acho que deviam ser... mais respeitados (...)

se tu fosse Deus quê que tu faria pra melhorar o mundo?
13. E. Pri. V. 4ª M. eu acabaria com as guerras todos os mísseis que fosse feito eu mandava uma chuva mandava um raio pra cada míssel (...)

se o seu marido impusesse a condição de que você teria que ser a mulher da casa? como você reagiria? trocaria seu sonho por sua liberdade?
14. E. Pub. L. 3º F. eu procurava outra pessoa olha tem tanta gente aí no mundo tem tanto homem pensando nem todos pensam o mesmo que ele (...) eu procuraria outra pessoa eu ia procurar outra pessoa ia me apaixonar por outra pessoa ia gostar de outra pessoa (...)

Os verbos marcados nos exemplos 11 e 12 dão uma sugestão sobre o que se deve fazer para resolver alguns problemas sociais, enquanto nos outros dois trechos os informantes respondem como agiriam diante das situações hipotéticas postas pelos entrevistadores. Uma característica importante sobre esse gênero é que injunção só ocorre na forma verbal de pretérito imperfeito.

O mais curioso é perceber o paradoxo que se constrói no gênero injuntivo ao se utilizar um verbo que remete ao passado para falar de algo que deve ser feito agora ou no futuro. Buscando a resposta para essa questão, concluímos que nem sempre o uso do pretérito situa o fato num intervalo de tempo anterior ao momento da enunciação ou em um intervalo de tempo simultâneo ao passado.

EXPRESSÃO DO TEMPO

As análises mostraram que as formas verbais no pretérito podem remeter-se ao futuro, ao presente ou mesmo não indicar tempo. Na injunção o verbo nunca revela uma ação no passado, pois essa forma verbal no pretérito imperfeito é uma alternativa do falante para expressar o futuro do pretérito.

Nos exemplos 11 e 12 a informante utiliza o verbo “devia” no pretérito imperfeito para incitar uma ação que não “devia” se realizar no passado, mas que deve se concretizar nos dias de hoje. Ela deseja que isso aconteça, esse desejo existe no momento da fala, no entanto, segundo Bechara, é um desejo incerto de execução, não há segurança em sua efetivação, o que causa o uso da forma imperfeita.

o que você quer ser quando crescer?
15. E. Pub. FO. 4ª F. eu preferia... eu preferia ser... aeromoça que era o meu sonho

Ao ser questionada sobre o que quer ser (presente) quando crescer (futuro), a informante responde com o imperfeito (passado) que tem o sonho (presente) de ser aeromoça. Por não confiar muito nessa possibilidade ela expressa esse desejo através do imperfeito.

tu gosta de entrar no tem fantasma?
16.E. Pub. J. 4ª F. gosto eu também queria andar no ranger mas minha mãe não deixa aquele

e sobre a questão do idoso no Brasil?
17. E. Pri. WF 8ª M. (...) o governo devia tomar alguma providência... juntamente com a sociedade... a população... pra ver se tinham como resolver esse problema (...) o idoso é uma pessoa como gente (...)

Além de indicar o presente, o pretérito imperfeito também pode marcar a idéia de futuridade. Essa ação futura é condicionada a uma situação hipotética ou de difícil execução no momento. Tomando assim as características do futuro do pretérito. É o que ocorre nos exemplos 13 e 14 e ainda no exemplo 5 com os verbos “ia” e “iam” já destacados.

Comparemos no trecho 13 o verbo “acabaria” contrastando com o verbo “mandava”, que é, semanticamente, futuro do pretérito. isso confirma que o falante possui alternativas para esse uso e geralmente recorre à forma do pretérito imperfeito por livre escolha.

Em relação ao pretérito perfeito, só foram encontrados dois exemplos dessa forma se remetendo ao futuro com o mesmo verbo.

e você acha que essa lei que legalizou o aborto no caso de estupro ou de má formação do feto você acha correta essa lei?
18. E. Pub. G. 8ª F. (...) vamos dizer que eu conheço uma pessoa que é estuprada pelo próprio pai... aí fica grávida (...) aí vamos dizer que tem o filho ela vai ficar com certeza vai vim depressão por causa daquilo (...)

você acha que o Brasil tem estrutura para implantar este projeto? (pena de morte) por quê?
19. E. Pub. R. 8ª M. não a situação é muito precária ia ter mais assassinato o pessoal ia se relutar contra isso aí digamos a maioria é traficante... ia vim traficante da Argentina da Colômbia (...)

O verbo “vim” está claramente colocado no lugar do futuro do subjuntivo “vir”, mas sua ocorrência não foi expressiva nos dados observados o que inibe uma conclusão sobre esta questão.

Outro ponto revelado pelas analises sobre a temporalidade dos pretéritos do indicativo é que nem sempre eles indicam tempo. Apesar de serem tempo verbais, podem ser usados para:
· Criar um mundo de faz de conta
me conta a historinha da Bela e a Fera eu não conheço
19. E. Pri. G. 4ª F. ah eu prefiro contar da Cinderela... tinha uma meninazinha que sua mãe faleceu e seu pai se casou com... eh com outra mulher (...)

Esta é uma adaptação do conhecido “Era uma vez...” em que o pretérito imperfeito não marca tempo passado, mas inicia uma historia.
· Apontar para algo ou alguém
tem alguma história que tu pode contar pra gente?
20. E. Pub. L. 8ª F. chamou muita atenção foi Marcelinho Pão e Vinho... a historia de um garoto que levava... é... comida pão e vinho para Jesus (...)

A informante não pretende apontar para o passado com o verbo “foi”, essa carga de temporalidade já está presente em “chamou”. O verbo marcado simplesmente aponta o nome do livro, que poderia até mesmo ser antecedido pela forma verbal presente do indicativo, já que seu nome continua o mesmo.

Constatamos, assim, que a semanticidade verbal ultrapassa a expressão temporal, confirmando a ausência de correspondência biunívica entre os recursos expressivos e os conteúdos expressos, como ressalta Ilari (1997).


ASPECTUALIDADE

Um ponto chave das diferenças de uso do pretérito perfeito e imperfeito é a aspectualidade. Aspecto é a indicação da duração do processo, de sua estrutura temporal interna. Assim, alguns teóricos consideram que o pretérito perfeito marca o aspecto pontual, enquanto o imperfeito marca o aspecto durativo.

O aspecto pontual é caracterizado por apresentar a situação como pontual, ou seja, como não tendo duração. Sabemos que toda situação tem duração, mas, lingüisticamente, a duração só é considerada quando é expressiva. Travaglia (1985) considera, porém, que o pretérito perfeito não marca a pontualidade, o que ocorre é uma abstração da duração porque esse tempo sempre se apresenta como concluso (perfectividade). Essa característica só aconteceria em casos estritamente pontuais como:

onde você nasceu?
21. E. Pri. T. 4ª F. eu nasci na maternidade Evangelina Rosa (...)

Este é um pretérito perfeito considerado pontual, pois a ação de nascer se dá em um único momento. O que percebemos claramente não ocorrer com:

me conta a historinha da Bela e a Fera eu não conheço
22. E. Pri. G. 4ª F. (...) ela foi feliz ao baile e o príncipe a escolheu pra dançar... eh dançou dançou dançou dançou e deu meia noite ela saiu correndo

Apesar de termos um pretérito perfeito, ele não marca pontualidade, mas sim o aspecto durativo, pois está evidente, pela fala da informante, que a moça dançou muito, isto é, durante um longo intervalo de tempo. Em um outro trecho deste exemplo encontramos:

(...) haveria um baile e o príncipe ia escolher sua noiva... eh Cinderela queria ir mas sua madrasta disse que ela não iria antes de limpar toda a casa... ela limpou eh enquanto seus amigos pássaros ratos faziam um belo vestido para ela (...)

O verbo “limpou” está no pretérito perfeito e por sua perfectividade poderia ser analisado como pontual, mas se observarmos o contexto no qual ele está inserido, a conclusão será diferente. Limpar a casa toda sem dúvida consome um tempo expressivo, ainda que a casa seja pequena e este tempo prolongado é reforçado por outro verbo que implica também em uma tarefa que demanda tempo, fazer um vestido. Enquanto o vestido era feito, a casa era limpa.

O aspecto durativo é caracterizado por apresentar a situação como tendo duração contínua limitada. Travaglia (1985) diz que Bechara afirma que o pretérito imperfeito do indicativo é o tempo da ação prolongada e que Cunha o diferencia do pretérito perfeito por exprimir uma ação durativa. De fato a maior parte dos pretéritos imperfeitos marcam o aspecto durativo, pois a maior parte deles são verbos de processo ou estado.

você já esteve doente alguma vez?
23. E. Pri. G. 4ª F. já semana passada eu tava com dengue

Estar doente não é algo pontual, toda doença demora um tempo expressivo para ser extinguida. Porém, no exemplo abaixo o pretérito imperfeito supõe uma ação pontual.

e da escola o que você acha?
24. E. Pri. T. 4ª F. (...) a professora Kátia e o professor Nunes são muito especiais para mim já a professora antiga ela gritava eu não gostava muito dela não

Gritar é uma ação que se dá em um único momento, é fisiologicamente impossível alguém passar cinco minutos dando um único grito, mas pode-se, neste intervalo de tempo, emitir vários gritos. Portanto, o uso do verbo “gritava” não corresponde à duração e sim à habitualidade. Gritar em sala de aula é uma característica da professora, que poderia estar sempre ocorrendo.

Concluímos, assim que o estudo da aspectualidade verbal vai além das questões da perfectividade ou imperfectividade e ultrapassa os conceitos de verbos de evento, processo ou estado. É uma análise que se dá no âmbito semântico de cada verbo, considerando o contexto em que ele está inserido e, principalmente, a intenção da mensagem expressa pelo falante.



LEITURAS COMENTADAS

De Rodrigo et alii (1996) retiramos a tipologia proposta por Travaglia para a divisão textual, já citada em Resultados e Discussões com seus respectivos conceitos. Os textos são divididos em narração, descrição, injunção e dissertação, a qual denominamos expositivo opinativo. O que chamamos de expositivo informativo não é proposto pelo autor, mas cita-se no livro a existência dos verbos que não chegam a constituir uma história, nos quais teríamos uma narração não história. Esse conceito foi então utilizado para essa nova tipologia a fim de evitar possíveis distorções na análise.

Ilari (1997) direciona nossas atenções para a semanticidade verbal ao indicar a falta de correspondência biunívoca entre o tempo morfológico e o tempo semântico, observando que o pretérito imperfeito indica muito mais que passado, como já foi explicado anteriormente, e que o pretérito perfeito pode emitir situações durativas. O autor divide ainda a idéia de duração em processos duráveis que significam “tempo gasto”, “tempo empregado” (Levou 15 minutos para achar a chave) e processos duráveis que significam “tempo escoado” (Saiam um minuto da sala).

Travaglia (1985) destaca que o pretérito perfeito não apresenta a situação como pontual, uma vez que toda ação tem uma duração interna. O autor explica que o pretérito perfeito só é considerado pontual porque sua natureza perfectiva omite a duração. Porém, ele exemplifica como aspecto pontual verbos de situações estritamente pontuais (Paulo arrebentou o cordão sem dificuldade).

Interessa-nos observar a caracterização feita por Travaglia do aspecto durativo no pretérito perfeito, que surge quando “a duração é marcada por um adjunto adverbial temporal (Ele ensaiou esta música durante o dia todo; Ele leu o artigo enquanto esperava sua vez no dentista)”. Também quando há repetição do verbo (Marta aprontou-se, aprontou-se e depois resolveu não sair mais) , iteratividade (Ele falou comigo várias vezes) e habitualidade (Aquele menino sempre desobedeceu aos pais). Ainda sobre esse assunto, Ilari destaca que muito dessa aspectualidade durativa no pretérito perfeito é regida pela presença de advérbios que localizam os eventos. Bechara (2001) acrescentou à nossa visão a possibilidade de tratar o imperfeito como indicação de um desejo presente e incerto de execução e por marcar, semanticamente, uma futuridade condicionada a uma ação hipotética ou de difícil execução no momento.


PARECER DA ORIENTADORA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO E SOBRE O RELATÓRIO



A bolsista Lea Mara desenvolveu o projeto Os Usos do Pretérito Perfeito e Imperfeito do Indicativo no Português Falado por Teresinenses com bastante seriedade, mostrando uma sensibilidade acadêmica para a pesquisa. Demonstrou essa seriedade no levantamento dos dados, nas leituras e nas observações relativas aos dados levantados.

Tendo em vista seu desempenho nas atividades do projeto, refletido positivamente na elaboração do relatório, posso atestar que a aluna tem correspondeu aos objetivos do programa.

Maria Auxiliadora Ferreira Lima
Orientadora do Projeto


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



BECHARA, Evanildo. Moderna gramática da língua portuguesa.Rio de Janeiro: Lucena, 2001.

CERVONI, Jean. A enunciação. São Paulo: Ática, 1989.

ILARI, Rodolfo. A expressão do tempo em português. São Paulo: EDUC/Contexto, 1997.

RODRIGUES, Ângela C. S.; CAMPOS, Odette G.L.A.S.; GALEMBEK, Paulo de T.; TRAVAGLIA, Luís C. Formas de pretérito perfeito e imperfeito do indicativo no plano textual discursivo. In: KOCH, Ingedore G. Villaça (Org.). Gramática do português falado. Vol. VI. Campinas: FAPESP, 1996.

TRAVAGLIA, Luís Carlos. O aspecto verbal no português. Uberlândia: EDUFU, 1985.