Projeto de Pesquisa desenvolvido em 2005 quando fui bolsista do PIBIC (Programa de Bolsa de Iniciação Científica) pela UFPI, sob orientação da professora doutora Maria Auxiliadora Ferreira Lima.TRABALHO PERMIADO COM MENÇÃO HONROSAINTRODUÇÃO
Neste relatório apresentamos os resultados da pesquisa <>. Esta analisa a realização do tempo verbal ocorrendo no mesmo momento da enunciação expresso pelas manifestações do presente do indicativo em produções lingüísticas orais. Trata dos usos temporais e aspectuais dessa forma verbal na fala de teresinenses que cursam as últimas séries do ensino fundamental (4ª e 8ª) e do ensino médio (3ª) detectados nos dados coletados. Esses dados nos proporcionarão uma visualização das condições de uso desse tempo por falantes que estão em contato com o ensino formal do emprego dessa forma verbal.
Observamos os verbos de acordo com os conceitos de temporalidade e aspectualidade, estabelecendo categorias classificatórias que variam de acordo com o seu comportamento semântico.
Neste relatório apresentamos, inicialmente, uma exposição de nossos objetivos e o modo como a pesquisa se concretizou. Teceremos, ainda, considerações referentes às observações dos dados sustentadas em teorias de estudiosos da área.
OBJETIVOS
A pesquisa teve como objetivo geral analisar aspectos da gramática do português falado por teresinenses que se encontram nas últimas séries do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Como objetivos específicos, destacamos:
- O estabelecimento de um quadro das formas verbais utilizadas no presente do indicativo,
- A identificação dos os usos semânticos das ocorrências verbais utilizadas no presente do indicativo,
- A identificação das marcas de aspectualidade nessas formas verbais,
- O estabelecimento de um quadro comparativo das semelhanças e diferenças que marcam o uso das ocorrências verbais no presente do indicativo na fala dos alunos de escolas da rede pública e privada, considerando a variável nível de escolaridade (4º e 8º séries do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio).
METODOLOGIA
Esta pesquisa faz parte de um projeto-núcleo que tem como um dos objetivos básicos a descrição de aspectos do português falado por teresinenses. Trata-se de uma pesquisa de natureza investigativa que requer a construção de um “corpora”, ou seja, de um conjunto de dados lingüísticos textuais,originários da amostra da produção lingüística oral de um conjunto de informantes.
Para o seu desenvolvimento fizemos uso do “corpora” do projeto-núcleo “Aspectos Gramaticais do Português Falado por Teresinenses” constituído através de gravações da fala de 96 informantes, alunos da 4º e 8º séries do Ensino Fundamental e da 3º série do Ensino Médio. As gravações foram feitas em 4 escolas da rede pública e 4 da rede privada. De cada escola está sendo realizada, por série, uma gravação de sessenta minutos da fala de 4 informantes (2 do sexo feminino e 2 do sexo masculino), na faixa etária entre 10 a 20 anos, perfazendo um total de 96 informantes. Mas para este projeto, trabalhamos com a amostra da fala de 24 informantes distribuídos em 04 escolas (duas da rede pública e duas da rede privada). De cada escola, por série, utilizaremos os dados lingüísticos de 6 informantes (2 por série) de acordo com a distribuição explicitada acima.
Para as gravações foi utilizado um sistema de entrevistas “não estruturadas” que favorece um contato mais formal entre entrevistador e informante, possibilitando um discurso mais contínuo. Quanto ao estabelecimento das variáveis, consideramos os seguintes fatores: nível de escolaridade, natureza da escola (pública e privada) e sexo.
Feita a escolha dos corpus a serem analisados, fizemos o levantamento e a separação das ocorrências dos verbos no presente gramatical e a leitura de outros trabalhos nessa área para o suporte teórico de nossa pesquisa. Escolhemos, entre as várias manifestações de diferentes verbos, focalizar nossos estudos nos verbos plenos, observando-os a partir da semântica verbal. Por fim, começamos as análises dos dados levantados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tempo é uma categoria lingüística que situa o fato em relação ao momento da enunciação. As abordagens lingüísticas costumam estabelecer as relações temporais a partir desse momento da produção do enunciado pelo falante. Assim o tempo do evento é situado em um momento anterior, posterior ou simultâneo ao momento da enunciação.
O presente é definido como o tempo no qual há simultaneidade entre o momento do evento (ME), momento da fala ou enunciação (MF) e o momento de referência (MR). Essa definição do presente do indicativo como sendo a expressão de um fato que ocorre no mesmo momento em que se fala é muito freqüente, nas gramáticas escolares. Ferreira (1995, p. 138), por exemplo, se limita a dizer que o presente “indica fatos que acontecem no momento em que se fala”. Mas já existem autores de gramática escolar que consideram outras abordagens. É o caso de Cereja e Magalhães (1999, p. 152) para quem o verbo no presente “expressa uma ação que está ocorrendo no momento em que se fala ou uma ação que se repete ou perdura”, considerando a aspectualidade verbal. Já Infante (1997, p. 203) vai mais além, citando também a aspectualidade, ressalta ainda a forma verbal do presente do indicativo sendo usada para fazer referência a outros tempos como o passado, o futuro e com valor imperativo.
1. ASPECTUALIDADE VERBAL
Para se falar em tempo verbal é necessário conhecer o conceito de aspecto verbal. Segundo Lima (2005, p. 112), tempo e aspecto são funções distintas que se confrontam para estabelecer o valor temporal de uma construção verbal, sendo que “o tempo é responsável pela localização temporal do fato, enquanto que o aspecto responde pelas propriedades internas do processo, como, por exemplo, duração, freqüência, instantaneidade, começo, desenvolvimento e fim”. Para este estudo vamos abordar os aspectos de duração e habitualidade, que são os mais visíveis nas análises. Vejamos alguns exemplos
1. [No interior o pessoal gosta mesmo?] (de forró)
GOSTA e paga melhor (…) (E.Pu.M.8ª)
[conhece algum grupo de jovens?]
CONHEÇO no Parque Piauí. (E.Pa.M.8ª)
3. [O que você mais gosta de fazer?]
(...) Eu PRETENDO até fazer faculdade pra:: ... pra Artes Plásticas (...) (E.Pa.M.3º)
4. [qual a sua opinião a respeito das crianças que estão fora da escola estão trabalhando?]
eu ENTENDO assim desse assunto (...) (E.Pu.M.4ª)
Todos esses verbos possuem uma duração expressiva marcada por suas naturezas semânticas. Dentro dessa natureza semântica de duratividade, podemos incluir outros verbos que também apareceram em nossas análises como “amar”, “odiar”, “desprezar”, “permanecer”, “ser”, “dominar”, “crer” etc.
Tratando ainda sobre a aspectualidade, há também aqueles verbos que remetem à idéia de ações habituais. Eles são retratados no tempo presente, mesmo que não estejam acontecendo de forma alguma durante o momento da enunciação. Lima (2005, p. 113) confirma essa análise ao explicitar que “o momento da realização dessas ações não coincide com o momento da enunciação”. Vamos observar os exemplos a seguir:
5. [E você deve ter acompanhado aquele alarde que fizeram a respeito da vinda do Beira-Mar pra cá o que você achou daquilo?]
eu tenho um irmão que ele ESTUDA fora ele mora no Rio e... todo mundo sabe de vez em quando ele LIGA que ele está lá no apartamento dele trancado (...) (E.Pa.F.3º)
Dessa vez, os verbos não indicam uma ação contínua que perpassa o momento da enunciação, mas apontam para ações que são extremamente comuns de acontecer. Na resposta da pergunta 5, a informante diz que seu irmão “estuda” e “liga” porém não devemos supor que essas ações estejam acontecendo de fato enquanto elas são informadas. É perfeitamente possível que o irmão dela não esteja estudando e não esteja ligando durante o MF. A opção que a entrevistada tem de citar essas ações na forma verbal do presente do indicativo denunciam que essas são situações habituais e por serem tão habituais podem ser enunciadas a qualquer momento na forma verbal do presente.
6. [No interior o pessoal gosta mesmo? (de forró)]
gosta e PAGA melhor (…) (E.Pu.M.8ª)
No exemplo 6 temos “pagar melhor” que é um hábito das pessoas do interior, sempre acontece. Perceba que quem “gosta” de forró, gosta a qualquer momento, inclusive durante o MF, mas não necessariamente enquanto o informante fala da ação de “pagar melhor” no interior, isso estará acontecendo. Analisar a diferença da aspectualidade entre esses dois verbos, nos leva à natureza semântica de ambos, sendo que “gostar” é um verbo de estado, “expressa uma propriedade do sujeito” (Borba, 1996, p. 60), enquanto “pagar” é um verbo de ação pontual, ou seja, “expressa uma atividade realizada por um sujeito agente” (Borba, 1996, p. 58) em um determinado momento.
7. [qual é a sua rotina de vida?]
Eu ACORDO mais ou menos às seis horas ...seis e meia ... TOMO banho ... aí ESCOVO meus dentes ... aí me ARRUMO pra ir pra minha escola ... pego ... ARRUMO minha mala ... (sorrindo) a minha mochila ... Aí DESÇO ... TOMO café ... Aí ... toda vez eu CHEGO atrasado na ... lá no carro ... porque todo mundo ENTRA na minha frente ... Aí ENTRO no carro e a gente VAI pro colégio ... Aí ... ASSISTO as aulas ... Aí eu SAIO uma e meia (...)
Vamos utilizar o exemplo 7 para considerarmos um modelo de raciocínio que Lima, (2005, p. 112) utiliza para esclarecer a questão da habitualidade.
No dia a, eu acordo mais ou menos às seis horas, tomo banho, escovo os dentes, me arrumo;
No dia b, eu acordo mais ou menos às seis horas, tomo banho, escovo os dentes, me arrumo;
No dia c, eu acordo mais ou menos às seis horas, tomo banho, escovo os dentes, me arrumo, etc.
Aqui temos a habitualidade marcada como “todo dia”.
Vejamos outros exemplos:
[em relação ao estudo ... tu estuda em escola particular ... mas como tu vê o ensino da escola pública hoje?]
o ensino da escola pública hoje em dia ele é muito prejudicado porque todos os anos SE FORMAM quarenta professores pra cada área determinada então os melhores INGRESSAM nos colégios particulares (...) (E.Pa.M.3ª)
[E você assim só vai lá de vez em quando? (na casa do pai ver o cachorro)]
não eu VOU todo final de semana as vezes VOU as vezes vou lá sexta quinta-feira (E.Pu.M.8ª)
10. [Você mora no Dirceu né? Você tem conhecimento dessas gangues por lá?]
É eu ASSISTO jornais e VEJO algumas informações de gangue lá né ? (...) (E.Pa.F.8ª)
Aqui temos mais exemplos do presente com o aspecto de habitualidade. Esses são fatos que podem acontecer de freqüentemente, como vemos nas sentenças 8 e 9, em que o próprio informante fala em advérbios como “todos os anos” e “todo final de semana” ou que podem acontecer todos os dias como exemplifica a resposta da pergunta 7. São exemplos de que o tempo presente possui um forte caráter semântico de eventos comuns no cotidiano. Bechara (2001, p 214), falando sobre a característica cursiva do presente, diz que “como o curso admite certa duração, os verbos pontuais aparecem no presente como formas de neutralização do passado ou do futuro ou então significam uma ação repetida”.
2. Simultaneidade do fato com o momento da enunciação
2.1 Simultaneidade pontual
Encontrar um verbo na forma de presente do indicativo indicando um fato que aconteça exatamente no momento em que se fala dele foi muito raro em nossas análises. Exemplos como “Do lugar onde está, ele não me vê”, dado por Corôa (1985, p 46), em que o evento está em pleno desenvolvimento enquanto é referido não é comum em nossos dados. Mesmo levando em consideração que o fato de estar concedendo uma entrevista limita as ações de nossos informantes, é sabido como característica desse tempo verbal a dificuldade de se observar uma simultaneidade perfeita entre o início e o fim de ME e MF. Coroa (1985, p. 45) confirma essa observação ao dizer que “o uso do chamado presente não implica necessariamente contemporaneidade com o momento da enunciação”.
Como alguns exemplos da forma verbal do presente do indicativo representando o tempo presente de fato, podemos destacar:
11. [me conta a historinha da Bela e a Fera eu não conheço]
ah eu PREFIRO contar da Cinderela... tinha uma meninazinha que sua mãe faleceu e seu pai se casou com... eh com outra mulher (...) (E.Pa.F.4ª)
12. [e você prefere lecionar ou você prefere trabalhar?]
eu PREFIRO assim ... trabalhar assim ... eu num PREFIRO lecionar por isso eu tô fazendo biologia (...)
No exemplo 11, a informante, ao ser interpelada a contar uma história sobre a Bela e a Fera, enuncia imediatamente sua preferência em contar outra narrativa. A manifestação pela preferência, expressa pela forma verbal “eu prefiro” ocorreu no momento da enunciação. Em seguida registramos um uso mais amplo da forma verbal do presente do indicativo do verbo “preferir” para uma comparação entre os dois usos. Perceba que no primeiro momento “eu prefiro” é pontual, uma vez que a própria pergunta é pontual; já no segundo uso, “eu prefiro” se estende pelo tempo perpassando o momento da enunciação.
13. [São nesses pequenas coisas ... no dia-a-dia que a gente pouco percebe mas tá aí né? a discriminação ... o preconceito]
eu passei seis meses nos Estados Unidos que eu morei lá ... que quando eu fui prá lá eu num coẽcia assim ninguém eu me LEMBRO que a mĩa maior dificuldade era o recreio (...) (E Pa.F.3º)
14. [Você viu alguma coisa acontecendo assim com uma pessoa ... Ela sendo discriminada ... você consegue lembrar?]
num CONSIGO LEMBRAR mas com certeza eu já vi (...) (E Pa.F.3º)
15. [Conta o filme assim como um todo ... pra quem não assistiu]
O filme como um todo? fala assim da ... da cultura:: é ... egípcia ... deixa eu ver se eu me LEMBRO ... fala muito:: no estágio inicial ... no começo do filme fala sobre uma pessoa que fez uma coisa (...) (E.Pa.M.3°)
Observemos agora o uso dessas formas do verbo “lembrar”. No exemplo 13 a lembrança ocorreu no momento da enunciação, no exemplo 14, acontece que a entrevistada informa que não consegue lembrar de determinado fato, portanto, a constatação da incapacidade de lembrar se dá no momento da enunciação. Já no exemplo 15, podemos perceber como a construção sintática é capaz de impedir a simultaneidade, pois poderíamos marcar a lembrança ocorrendo no momento da enunciação se não fosse a expressão “deixa eu ver se...”, pois dessa forma não podemos afirmar que lembrança surgiu no momento em que ele fala sobre a tentativa de lembrar-se.
Vejamos outros exemplos:
16. [Ah aquele carro né? teve assim uma cena engraçada uma vez negócio de uma pintura que eles tavam ...]
ah SEI ... foi foi quando ele ...é metade do carro foi pintado de rosa né? (E.Pa.M.4ª)
[do quê que trata o filme? (Matrix)]
(...) liga o computador aí imediatamente o chipe aciona o coisa deles é o pensamento deles pra o computador aí eles lá ficam faz um bocado de coisa lá num SEI como assim explicar aprende artes marciais sei lá uma coisa que eles faz interessante umas coisas que ele faz lá. (E.Pu.M.4ª)
[pode contar algum caso? (decepção com algum amigo)]
POSSO deixa eu ver ... ah um deles era casado com uma prima minha (...) (E.Pa.M.8ª)
No exemplo 16, o entrevistador recorda de uma cena na novela Malhação e antes mesmo de terminar seu raciocínio é interrompido pela voz do informante que declara saber sobre o fato. Observando a espontaneidade da fala do garoto, podemos supor que ao constatar que sabia do que estava sendo falado, ele imediatamente expôs seu pensamento. Já na declaração 17, acontece o contrário, no momento da enunciação se dá a constatação de não saber explicar algo. No exemplo 18, a certeza sobre a possibilidade de falar sobre algo e a expressão dessa possibilidade também acontecem praticamente no mesmo momento. Nesses enunciados, o pensamento e sua expressão são separados por um tempo mínimo, pode-se dizer orgânico, que nos leva a considerá-los acontecendo no mesmo instante, caracterizando, assim, o tempo presente de fato. É importante atentar para a natureza não-ativa desses verbos.
2.2 Simultaneidade marcada por advérbios de tempo
Preocupando-se ainda com a expressão do presente de fato, alguns autores identificam no advérbio o traço temporal que resolve a variação temporal do presente. Corôa (1985, p. 45) considera que “geralmente é o advérbio de tempo o responsável pela expressão de simultaneidade”. Também encontramos em Corôa (1985, p. 44) que para Bartsch, “o presente só se manifesta lingüisticamente por meio de analíticos, ou seja, não é a forma de presente do verbo que localiza a ação com respeito ao sistema de referência, mas elementos como ‘agora’, ‘hoje’ etc”. Como nesse exemplo:
19. [Em relação à amizade, você tem muitos amigos... Você já se decepcionou com algum amigo?]
É, eu tenho muitos amigo né, eu sou uma pessoa muito extrovertida, falo com todo mundo... e decepcionar que eu me lembre... NESSE EXATO MOMENTO eu não ME RECORDO se eu decepcionei alguma decepção é de amigo (que tenha marcado) é que tenha marcado. (E.Pa.F.8ª)
Porém, em alguns momentos percebemos que a marca temporal do advérbio não expressa simultaneidade.
20. [como é esse grupo lá, vocês fazem o quê?]
(...) um dia desse eu terminei de ler foi no dia doze que eu terminei (?) tem uns assim que VÃO AGORA pro grupo dos Cânticos AGORA VOU para outros grupos lá tem muitos grupos. (E.Pu.F.4ª)
[e com seus irmãos? (como é o relacionamento)]
(...) uma casou e o outro VAI CASAR AGORA (...) (E.Pa.M.8ª)
Nesses dois usos do advérbio “agora” percebemos que apesar dos informantes fazerem uma ancoragem do presente, o tempo não se restringiu ao presente de fato, mas está sim indicando um futuro próximo marcado pelo advérbio “agora”. Sabe-se que a perífrase verbo auxiliar no presente + verbo principal no infinitivo pessoal indica futuro, que é o caso do exemplo 21. Porém, no exemplo 20, além de não termos uma perífrase de futuro, há um advérbio indicando tempo imediato, mas ainda sim é possível verificar o sentido de futuridade nessa fala, esse sentido pode ser causado pela semântica do verbo “ir”, que indica movimento para frente, progressão, o que provoca uma extensão de temporalidade do “agora”.
A semanticidade do verbo “ir” permite que o presente seja utilizado com a idéia de futuro, principalmente quando está dentro da perífrase verbo auxiliar no presente+verbo principal no infinitivo. Vejamos:
22. o que você acha que poderia se fazer pra melhorar essa situação? De quem é a culpa disso?
(...) essa coisa de criança trabalhar na escola por causa que se é oh de criança trabalhar purque se ele num estudar no futuro ela o que ela VAI FAZER É muito poco do quela VAI CONSEGUIR (E.Pa.M.4ª)
23. qual a importância do estudo pra você Ewerton?
pra mim quando eu crescer ele VAI SERVIR muito pra mim assim ... (E.Pa.M.4ª)
tu acha que o desemprego hoje é culpa de pessoas que não tem tanto conhecimento é culpa do governo ou é uma junção?
(...) agora eu fico me perguntando como é que cozinheiras auxiliares de enfermagem que trabalham a vinte anos ou mais estão sem istudar ... como é qui essas pessoas VÃO SE PREPARAR pra outro concurso pra entra onde já estava
3. O presente marcado pelo gerúndio
Mesmo as construções do presente com locuções verbais de auxiliar + gerúndio, “estou sentido”, “vou falando” etc nem sempre conseguem situar o fato no momento restrito da enunciação.
25. [e você prefere lecionar ou você prefere trabalhar?]
eu prefiro assim ... trabalhar assim ... eu num prefiro lecionar por isso eu TÔ FAZENDO biologia não tanto pra mim lecionar e:: ... pra na biologia assim pra mim não lecionar aí eu TÔ FAZENDO mais é pra ajudar pra fazer o curso de medicina lá:; na frente (...) (E.Pu.M.3º)
26. [E em relação à violência, o que você tem a dizer? É um problema que está bem complicado no Brasil não é e no mundo também queria que você fizesse algum comentário]
(...) o pessoal está muito sei lá, sei nem explicar, acho que sem Deus assim no coração, muita violência, muita briga, morte, sem mais nem menos o pessoal está aqui e por causa de um tênis, por causa de um boné ESTÁ MATANDO, ESTÁ ATIRANDO, ESTÁ FAZENDO tudo de mau (...) (E.Pa.F.8ª)
No exemplo 25, a locução dá a idéia de algo que realmente está acontecendo, mas não necessariamente no momento da enunciação, há a extensão do tempo ou seja, da noção de presente. Já a outra sentença, comunica algo que acontece com facilidade e não que esteja acontecendo no momento em que ela fala, há uma idéia de habitualidade.
4. Simultaneidade extensiva
4.1 Presente perpassando o momento da enunciação
Nos corpus analisados, a forma verbal do presente do indicativo, nas muitas vezes em que aparece, remete a fatos que já estavam acontecendo antes do MF, que ainda estão acontecendo durante o MF e continuarão a acontecer depois do MF por um tempo que muitas vezes não se pode limitar. Corôa (1985, p. 45) afirma que “o presente gramatical não se reduz, portanto, ao momento da fala, mas a uma fração de tempo que inclui o momento da fala”. É nesse sentido de ampliação do tempo presente para antes e depois do momento de enunciação que analisamos uma grande parte dos verbos registrados, tendo em vista que esse comportamento na duração do tempo verbal encontra suporte teórico dentro da aspectualidade verbal.
27. Por que você acha que não aconteceu? (o dilúvio)
eu num sei só que eu não ACREDITO ... meu pai também não ACREDITA (E.Pa.F.4ª)
28. fazia tanta questão de votar em alguém que tem uma certa descrença.
TEM uma certa descrença é ... Não BOTO muita fé nesses políticos não (E.Pu.M.8ª)
E em São Paulo ... qual foi assim os lugares que você conheceu que te chamou a atenção?
(...) eu fiquei na casa da ... da amiga da minha tia que ficava na casa de uma pessoa lá que eles FAZEM parte do grupo Folclore ... e gostei muito de São Paulo (E.Pa.M.4ª)
Todos esses verbos perpassam o MF em uma ampliação do tempo presente para momentos anteriores e posteriores à declaração.
4.2 Presente atemporal
A forma verbal do presente do indicativo também é capaz de expressar fatos para os quais não há a possibilidade de se marcar um tempo exato. Nesse sentido temos as verdades universais como “A terra gira em torno do sol”, os provérbios, “Macaco velho não mete a mão em cumbuca” e outras situações de fala que expressam fatos arraigados em nossa mente como se fossem verdades pré-concebidas, nas quais toda a sociedade acredita e defende independente do momento em que se fala, por exemplo, “O governo não faz nada pelos pobres”. Em nossos estudos, observamos essa última perspectiva de situações comuns na fala.
[O que tu acha dessa ascensão da mulher acha que é benigno tem algum ponto positivo algum ponto negativo?]
É ótimo porque eu acho que a mulher ela TEM o mesmo raciocínio que o homem (...) ela já TEM a mente mais amadurecida do que o homem então eu acho que ela TEM capacidade de fazê tudo o que o homem e FAZ ainda de salto (E.Pu.F.8ª)
31. [Que qualidades deve ter uma pessoa para ser considerada uma boa pessoa?]
o melhor amigo ele... ele não BRIGA ele não DISCUTE ele É uma pessoa legal (...) (E.Pa.M.4ª)
Os exemplos 30 e 31 possuem característica de definição, o que conduz, ainda mais, o falante a expressar esses verbos na forma do presente gramatical, pois o conceito de algo se dá na forma do presente do indicativo.
[o que é um amigo para você?]
ah um amigo pra mim é aquele que CONVERSA com ele se chamar pra pra ir pra um lugar aí ele VAI na hora de uma precisão (...) (E.Pa.M.8ª)
33. [a utilidade a criar uma imagem boa e criar a função daquele produto mesmo que ele não sirva pra nada mas através da propaganda ele tem uma função aquele produto]
pois isso a a gente aqui no Brasil país quente e tudo a gente... VIVE igual os americano só USA calça ... tipo assim o estilo de vida americano tudo por causa da propaganda propaganda (E.Pa.F.3º)
34. [e como é que você vê o ensino público?]
(...) no colégio particular se você ver no primeiro dia de aula já TEM todos os professores e TEM uma pedagoga que FICA direto andando no colégio andando num DEIXA nenhum aluno fora aqui não aqui FICA aluno gazeando ali num TEM nenhuma pedagoga pra ficar virando direto o aluno já em colégio particular não em colégio particular num ACONTECE isso (...) (E.Pu.F.3º)
Os verbos marcados expressam pensamentos difundidos na sociedade que sempre quando são abordados se apresentam da mesma forma. É importante frisar que eles não estão expressando verdades universais, pois são questões culturais que podem ser diferenciadas em outros lugares e também podem mudar a qualquer momento dentro de uma situação incomum de mudança social. No sentido de ser o tempo responsável pela localização temporal do fato, consideramos esses verbos atemporais, pois não há localização desses acontecimentos num tempo exato ou mesmo amplo. Levando em consideração o contexto das sentenças em que esse tipo de expressão da forma verbal do presente indicativo acontece, observamos sua grande freqüência em textos opinativos, pois são frutos da observação.
5. Presente em narrativas
Em todos os gêneros textuais os que mais se destacaram quanto ao uso da forma verbal do presente do indicativo foram a narração e a descrição. Temos uma narração quando contamos uma história com fatos passados ou fictícios que contenham ações seqüenciadas cronologicamente, um encadeamento dos fatos. Uma característica da narração é ser apresentada geralmente em ações verbalizadas no pretérito perfeito ou imperfeito. No entanto, existem momentos em que os falantes optam por expressar histórias, reais ou fictícias, no presente gramatical. Bechara (2001, p. 276) considera esse tipo de narração “animada e seguida (presente histórico), como para dar a fatos passados o sabor de novidade das coisas atuais”. E diz que os verbos na forma de presente gramatical existentes nessas narrações estão sendo empregados no lugar do pretérito. Seria, portanto, o presente gramatical indicando o tempo passado. Dentro de histórias reais é mais incomum o uso do presente gramatical, pois os falantes, ao contarem algo que aconteceu com eles ou com outras pessoas próximas a eles costumam detalhar bastante os acontecimentos, o que os leva a optar pelo pretérito que esclarece melhor a seqüência de fatos. Pelas análises, podemos perceber que o uso da forma verbal do presente em narrações de fatos reais é explicado pela opção do falante em causar um impacto no interlocutor, levando-o a sentir-se no momento exato que o fato aconteceu.
[conta pra gente como foi? (viagem a Parnaíba)]
quando deu assim umas cinco seis horas eu acordei (...) aí eu olhei aí eu perguntei pro meu pai se aqui já era Luis Correa aí ele disse que É e eu fiquei mais ansioso pra chegar (E.Pa.M.4ª)
Perceba neste exemplo, além do verbo “é” marcado, o advérbio de lugar “aqui”. É como se o informante se transportasse para o lugar e o tempo exato em que a situação narrada ocorreu.
36. [Qual foi assim essa situação? (situação de susto ou perigo)]
(...) ele foi querer pegar a chuva que tava sentado num ( ) carro ... a rua tava toda... encharcada ... aí ele queria pegar ... só que veio ( ) um caminhão quase que ATROPELA ele e pedindo pra ele sair de perto pra ele sair de perto só que num... num saía de perto aí depois que eles trancaram o portão (E.Pa.M.4ª)
Já no caso das narrativas fictícias, o presente gramatical surge quando ao narrar algo, o informante não queira entrar nos detalhes da obra, narrando-o superficialmente. A isso devemos atribuir que a informação, consciente ou não, de que o um livro ou um filme vão sempre falar sobre as mesmas coisas em qualquer que seja o momento, pois não sofrem, comumente, qualquer tipo de mudança. São criados para serem atemporais.
37. [Mas ela era índia?]
Índia ... Falava sobre os índios ... Aí ... na tribo dela ela era a guardiã da bebida de Jurema ... Aí ... no decorrer da história ela ACABA se APAIXONANDO por um português que é Martin parece ... Martin ... eu num lembro direito ... Aí eles dois se APAIXONAM ...ela era muito ágil ... Ela ... por ser índia conhecia as matas ... O livro é todo cheio de detalhes ... é:: ... muito descritivo ... Você ... pela descrição você imagina detalhadamente ... Aí no decorrer da história TEM a briga entre a tribo dela e outra tribo que eu num lembro qual é o nome ... ACABAM MORRENDO muitos guerreiros ... E antes da guerra ela até DÁ aos guerreiros ... seus guerreiros a bebida né? que parece que DÁ muita força ... força total ... alguma coisa assim ... Eu sei que assim quase no final eu lembro que ela MORRE e ele a ENTERRA ... não ... ele VOLTA pra Portugal ... Quando ele VOLTA ele DESCOBRE que ela tava grávida e TEM um filho dele que É Moacy até ... que o nome é filho do sofrimento ... Aí ... Ela MORRE parece que no parto ... e ... logo depois ele a ENTERRA ela embaixo das fo/ ... embaixo de um pé de maracujá ... Aí ele DIZ pra ela que perfeitamente o cheiro das folhas ... das flores do maracujá ... Achei MAssa! (E.Pa.M.3º)
[Você quer contar a história pra mim?]
conto. A história é FALA a seca né, no Nordeste aí TEM o Ataliba e a mocinha que É a Teresinha e SE APAIXONA, é ele PEDE a mãe dela em casamento e depois a seca COMEÇA A CHEGAR, o pessoal COMEÇA A PROCURAR lugares que não tenha seca, aí eles... COMEÇAM A IR né, só que ela, a tia da Teresinha, FICA, não estava querendo ir aí ele insiste, ai ela VAI ela ADOECE, a tia da Teresinha MORRE e então eles VÃO, ai no final de tudo ela MORRE também, a Teresinha, ele MORRE, picado de cobra, lá É um romance, um romance meio triste assim né. (E.Pa.F.8ª)
[você poderia contar um episódio que você gostou muito, que você assistiu do Tom e Jerry?]
é:: PODE SER filme ... é que um dia é eles pegaram tavam na casa ... aí:: o Jerry era um rato ele tĩa feito uma casinha lá na casa do dos do Tom que era o gato aí:: o dono dele se mudaram aí o Jerry foi coisando aí o Tom foi correr atrás do Jerry aí ... o caminhão foi simbora ... aí eles voltaram pra casa dele aí voltaram e dormiram lá aí:: pegaram pegou o ... parece que a prefeitura foi destruir a casa pra fazer outra coisa aí ... ia pegando eles eles tavam correndo desesperado aí depois eles viveram na rua uns dia conheceram outros amigo que era um gato e um gafanhoto parece aí depois ele conheceu uma menina chamada (?) aí ela quis levar ele pra casa deles só que a tia dela era rica milionária só que ela era muito má ... que até ela viu a (?) ficava fora de casa porque ela maltratava ela aí ela fugia de casa ... ela só queria ela porque ela por causa da fortuna que ela pensava que o pai dela tĩa morrido numa riban// numa avalanche de rio ... aí descobriram que é ele num tĩa morrido ele tava vivo ... aí o Tom o Jerry tava escutou essa história que ela ele ela recebeu um telegrama aí ela jogou no fogo aí o Jerry correu ... é pegou logo antes que pegasse fogo nele tudo ... aí eles tentaram levar pra Robi só que a ela viu e mandaram eles pra um zoológico que tĩa um homem que ele criava animal só que ele era ruim ... aí como o Jerry era um rato aí ele era pequeno aí ele passou entre as grade aperto num botão lá tudinho do sistema aí abriu as grades aí eles fugiram contaram pra Robi e a Robi fugiu num barco ela cheg// quando ela chegou nũa casa que o:: pai dela morava a Ro// a tia a tia dela é ela suspeitou que eles tĩa dito pra ela que o pai dela tava vivo aí ela foi pra cabana ficou esperando ela chegar quando ela chegou aí ela viu ela aí elas tĩa lá um lampião aí ele caiu no chão pegô fogo na casa aí quando o pai dela chegou na cabana a fia dele tava morrendo aí ele pegou ela e o Tom e Jerry aí a casa desabo e eles ficaram nos escombros aí ela ficou chorando aí contaram ele eles lá aí eles pegaram e viveram nũa casa lá e acabou. (E.Pu.M.4ª)
Registramos esse exemplo para mostrar a riqueza de detalhes que o informante da 4ª série dá sobre um desenho animado que ele assistiu. Todos os verbos da narrativa estão no pretérito perfeito, pois devido a tantas ações, somente no pretérito a organização delas dentro da narrativa ficaria mais visível. Agora, observe que o mesmo informante ao falar do filme Matrix e do Auto da Compadecida não se sente à vontade com os detalhes e narra essas duas histórias mais superficialmente.
[do quê que trata o filme? (Matrix)]
ele TRATA de:: uns homem sei lá ele PEGA eles (?) um chipe no celebro deles aí:: o celebro deles É assim eles VIAJAM em computador assim através do chipe por exemplo ele eles ESTÃO lá no mundo deles né aí DEITA eles nũa cama assim aí:: LIGA o computador aí imediatamente o chipe ACIONA o coisa deles É o pensamento deles pra o computador aí eles lá FICAM FAZ um bocado de coisa lá num sei como assim explicar APRENDE artes marciais sei lá uma coisa que eles FAZ interessante umas coisas que ele FAZ lá. (E.Pu.M.4ª)
41. [teve outro filme além do Matrix que você assistiu, que você gostou muito?]
a:: Auto da Compadecida muito engraçado ... aí eu gosto dele também ... ele FALA É de uma na cidade lá Pernambuco sei lá pobre né aí eles pegam FICAM eles TA lá aí TEM o Chicò e outro lá aí aí eles SÃO um pouco interesseiros aí eles pegam e FAZEM tudo assim é:: se puder pra ganhar um pouco de dinheiro acho que eles eram pobre e também num tinha dinheiro pra comer. (E.Pu.M.4ª)
6. Presente em descrições
No âmbito do texto descritivo, é muito comum o aparecimento do presente gramatical, pois devemos considerar que as características de um lugar, de uma pessoa ou situação são estáveis por muito tempo, ou quiçá, nunca sofrem mudança. Dentro dessa categoria de texto, diferenciamos um tipo de descrição que denominamos descrição ilustrativa, que surge quando o entrevistado, geralmente ao emitir uma opinião, explica algo por meio da descrição de alguma situação imaginativa.
42. [como é lá? (viagem ao interior)]
É bom assim um lugar mais (?) cidade É diferente lá É mais um ar mais puro agente não ESCUTA assim esse barulho que TEM aqui lá É cheio de árvores (E.Pu.F.4ª)
43. [E assim ... como era a escola lá ?]
ginásio dividia o ginásio enorme abria... só você vendo mesmo biblioteca num SEI quantos computadores... que lá TEM\ o aluno não COMPRA o livro... a escola TEM um livro pra cada aluno tudo conservado encapado... é ar condicionado central tudo assim do melhor num tem... agora o ensino o ensino tipo assim de lá não É tão puxado como daqui... agora eu acho certo porque... aqui assim a gente ESTUDA muita muita coisa assim um estudo puxado quando você passar um tempo você num LEMBRA mais de nada... lá não você ESTUDA mais assim o básico... coisa que você realmente TEM que saber... e você ESCOLHE a matéria que você quer né?... aprendi muito mais do que aqui onde você TEM que estudar esforçada e às vezes nem ESTUDA ... DECORA né? e ESQUECE tudo
Essas são descrições de lugares e situações reais. Vejamos agora alguns casos de descrição ilustrativa.
44. [Você sabe o que é reencarnação?]
É assim ... A pessoa MORRE:: e depois se ela num teve assim ... uma vida totalmente realizada pra ela ... ela VOLTA ... ela REENCARNA ... ela ENCARNA noutro corpo e ... muitas vezes assim ela TEM uma idéia ... vamos dizer ... tipo um conhecimento que ela já tinha e ... TEM possibilidade assim ... de desenvolver como pessoa ... já que ela já foi aquela pessoa mais:: passou a sê essa atual ... por exemplo. (E.Pa.M.3º)
45. [qual a sua opinião a respeito das crianças que estão fora da escola, estão trabalhando?]
eu entendo assim desse assunto ... que eu acho que elas TRABALHAM porque num SEI o pai e mãe SÃO doente aí acho que elas TRABALHAM ou então TÃO na muita pobreza a mãe TÁ PROCURANDO arrumar emprego num CONSEGUE aí ele aí a mãe e o pai eles VÃO VENDER coisa né (...) (E.Pu.M.4ª)
46. [Qual a diferença entre ficar e namorar que a gente não entende assim muito bem?]
O ficar que eu entendo né, é:: por exemplo, você VAI numa festa CONHECE um garoto, TEM aquela atração momentânea né, então você FICA naquela festa, naquele momento, naquelas horas com ele, e o namorar na, se bem que o namorar cem do ficar né, você FICA uma vez, duas vez, três vez e COMEÇA a namorar, um mês, dois meses, aí VAI o namoro né
A descrição ilustrativa possibilita que se fale sobre uma situação, como se todas as pessoas a realizassem ou sofressem sua experiência. O verbo na forma gramatical do presente do indicativo torna o enunciado atemporal e geral. Nosso objetivo nesta análise foi fazer a descrição dos usos da forma verbal do presente do indicativo, levando em consideração sua temporalidade e aspectualidade, como já foi dito anteriormente. No percurso da análise, destacamos como pontos principais do comportamento do presente gramatical na fala, a difícil ocorrência da forma verbal do presente representando o tempo presente, uma vez que esse tempo possui um caráter extremamente amplo e, por vezes atemporal, para suas ações, mesmo quando ancorado em advérbios de tempo imediato. E perceber que o valor semântico dos verbos influencia grandemente essa análise da temporalidade e da aspectualidade. Pretendemos, a partir desses resultados, elaborar um quadro comparativo das semelhanças e diferenças que marcam o uso das ocorrências verbais do presente do indicativo, levando em consideração os usos semânticos de alguns verbos de nossos dados.
PARECER DA ORIENTADORA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO E SOBRE O RELATÓRIO
A bolsista Léa Mara desenvolveu o projeto Uma análise das condições de uso do presente do indicativo no português falado por teresinenses do ensino fundamental e médio com bastante seriedade, mostrando uma sensibilidade acadêmica para a pesquisa. Demonstrou essa seriedade no levantamento dos dados, nas leituras e nas observações relativas aos dados levantados.
Tendo em vista seu desempenho nas atividades do projeto, refletido positivamente na elaboração do relatório, posso atestar que a aluna correspondeu aos objetivos do programa.
Maria Auxiliadora Ferreira Lima
Orientadora do Projeto
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRONCART, Jean-Paul. Atividade de Linguagem, textos e discursos. São Paulo: EDUC, 1999.
BORBA, Francisco S. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: Ática, 1996.
CORÔA, Maria Luíza. O tempo nos verbos do português: uma introdução à sua interpretação semântica. Brasília: Thesaurus, 1985.
LIMA, Maria Auxiliadora Ferreira. A temporalidade verbal no processo de construção Referencial: uma análise. In: BRANDÃO, Saulo Cunha de Serpa; LIMA, Maria Auxiliadora Ferreira (Org.). Ensaios reunidos: coletânea do Mestrado em Letras. Teresina: Halley, 2005.
RODRIGUES, Ângela C. S.; CAMPOS, Odette G.L.A.S.; GALEMBEK, Paulo de T.; TRAVAGLIA, Luís C. Formas de pretérito perfeito e imperfeito do indicativo no plano textual discursivo. In: KOCH, Ingedore G. Villaça (Org.). Gramática do português falado. Vol. VI. Campinas: FAPESP, 1996.
TRAVAGLIA, Luís Carlos. O aspecto verbal no português. Uberlândia: EDUFU, 1994.