sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Universidades do século XX e XXI

Introdução

Com o advento da globalização e o domínio dos interesses do mercado global sobre a sociedade, a universidade do século XX, antes envolvida com a cultura nacional e a formação do sujeito liberal, ligou-se a interesses mercadológicos opostos a sua missão social. E teve de consentir, então, com a queda de seus valores centrais (Razão e Cultura). Assim, a universidade moderna adaptou-se ao sistema econômico, desprestigiando as disciplinas do pensamento, a fim de tornar-se mais produtiva, investindo em saberes práticos. Essa substituição gradual do saber pelos valores de mercado fez fracassar a instituição de ensino superior. No entanto, mudanças iniciais têm ocorrido, visando melhorar a universidade no presente século e torná-la mais alinhada a um ensino e pesquisa de qualidade.
Nesse texto, pretende-se, portanto, abordar, de forma substancial, a situação da universidade brasileira, sua aliança com o mercado, relação com a sociedade e as necessidades da Reforma Universitária. A importância deste tema é fomentar a discussão sobre os problemas e necessidades da universidade brasileira e fim de se concluir o melhor caminho a ser seguido pela Reforma.

A Universidade e a Sociedade

A relação existente hoje entre universidade e sociedade está baseada muito mais e princípios mercadológicos de compra e venda de pacotes de conhecimento do que em interesses educacionais ligados ao saber e à evolução do cidadão racional. É perceptível, em todo o mundo, o investindo que as universidades têm feito em atualização, agilidade e competência tecnocientífica, deixando em segundo plano as questões curriculares que importam à formação do aluno. Como não poderia deixar de ser, essa inversão de interesses tem modificado também os efeitos sociais gerados pelas atividades acadêmicas. Pois, vista, durante muito tempo, como uma instituição que consumia grande volume de recursos para o estudo de temas teóricos sem aplicação prática imediata; hoje, por obediência à norma mercadológica de eficiência, privilegia atividades de ensino e pesquisa que tenham aplicação direta prática no contexto social, na visão de que os recursos públicos devem gerar produtos socialmente úteis.

No entanto, o papel social da universidade jamais foi se submeter ao gosto do público ou aos interesses de qualquer sistema para ser qualificada como excelente por princípios questionáveis. Seu papel dentro da sociedade está intrinsecamente ligado à preparação crítica e científica do sujeito cidadão, racional, relativamente livre e autônomo, não limitado a obedecer cegamente, mas que conhece seus direitos e deveres. Seu compromisso social deve pautar-se no exercício da crítica, da oposição e da resistência, visando à criação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Universidades estabelecidas nesses princípios, citados imediatamente acima, são de total importância no desenvolvimento de uma sociedade. Pois, através de suas atividades de ensino e pesquisa, formam o ser humano como indivíduo, cidadão e profissional.

No estado do Piauí, considerado o mais pobre da federação, o ensino superior, anos atrás, era extremamente carente, tanto em número de instituições como em qualificação. Hoje, são muitas as faculdades privadas abertas na capital e no interior, promovendo o aparecimento de mais vagas no ensino superior e a descentralização do estudo na capital. No entanto, esse crescimento ainda tem ocorrido às sombras das universidades públicas presentes no estado, uma vez que os estudantes, em sua maioria, ainda confiam mais na qualidade do ensino proposto pelas públicas, apesar de seu sucateamento. Mas, sem dúvida, a expansão das faculdades particulares tem promovido desenvolvimento ao Estado.

A Reforma Universitária

Os problemas de relacionamento com o mercado e operacionalização das atividades acadêmicas foram piores para a universidade brasileira por causa da situação de miséria em que as públicas se encontram. Situação, esta, gerada pela ausência do Estado, principalmente no final do século XX, que não investiu na ampliação ou qualificação do ensino superior, abandonando professores, alunos e gestores durante anos. O governo de Fernando Henrique Cardoso não esteve sequer preocupado em controlar o crescimento numérico das instituições de ensino superior privadas, as quais, e sua maioria, cresceram sem qualquer tipo de qualificação em suas atividades.

Nesse caos educacional gerado por erros e omissões históricas, o atual governo tem se mobilizado no sentido de tentar recuperar a universidade pública e qualificar as privadas com a concretização da Reforma Universitária já prevista no governo FHC. Tal reforma, contudo, se não passar por mudanças significativas em alguns pontos, será uma continuidade, em alguns casos até mesmo um aprofundamento, das políticas neoliberais utilizadas até aqui.
A expansão das instituições de ensino superior privadas, a título de exemplo, continua a ocorrer, porém, atualmente, já com certo controle instituído pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), mas que ainda não se configura em um modelo ideal por está sujeito a fraudes. O Sistema de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) é mais complexo em seu sistema de avaliação que o antigo Provão, mas a maior parte das IES privadas te conseguido maquiar sua realidade a fim de ser bem avaliada.

O sistema de cotas é outra proposta da Reforma que ainda não encontrou apoio suficiente para se firmar nas universidades públicas. Enquanto as particulares o cumprem visando ganhos financeiros advindos de sua colaboração com a política educacional do Estado.

O Programa Universidade para Todos (PROUNI), ponto desta reforma já em funcionamento, é, também, bastante criticado por causa da grande quantia financeira que o governo tem investido nas IES privadas, fortalecendo-as, enquanto as públicas padecem com tantas necessidades.

Conclusão

Apesar disso, a Reforma Universitária encaminhada ao Congresso Nacional possui pontos positivos que apontam para a qualificação dos docentes, incentivando-os a participarem de pós-graduações. Ao mesmo tempo, estabelece um percentual obrigatório mínimo de mestres e doutores que as IES devem ter em atuação. Também limita a participação do capital estrangeiro nas empresas de educação superior e institui novos padrões de financiamento, apontando, assim, para o ideal de autonomia nas universidades públicas e privadas.

Transformações como essas poderão trazer real desenvolvimento e progresso à educação superior e, consequentemente, à sociedade. Outros pontos aqui relatados, porém, devem continuar em discussão no governo, na sociedade e na universidade, pois, caso sejam aceitos, podem gerar mais encargos financeiros ao governo, que já não tem investido em educação no modelo atual, e levar à ruína do ensino superior brasileiro.


Referências Bibliográficas

BELLEI, Sérgio Luiz Prado. Universidade e compromisso social.
GEORGEN, Pedro. Universidade e compromisso social.
SGUISSARDI, Valdemar. Universidade no Brasil: dos modelos clássicos aos modelos de ocasião.

Produzido para Curso de Especialização em Docência do Ensino Superior

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