sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Papéis da ação didática: análise de dois exemplos retirados de filmes

Ao longo da história, a educação sofreu muitas transformações, o que não poderia deixar de acontecer, já que ela acompanha o progresso da humanidade. Portanto, por trás do trabalho de cada professor, em qualquer sala de aula do mundo, estão séculos de reflexões e novas formas de atuação sobre o ofício de educar.

Os filmes “O espelho de duas faces” e “Lutero” vêm nos mostrar um pouco sobre essas formas de atuação que tanto o professor quanto o aluno exercem em sala de aula e a forma como os conteúdos são ministrados. Em ambos os filmes temos professores com comportamentos semelhantes, embora as épocas em que as histórias se passam sejam bem longínquas uma da outra. Lutero, filme que reconta a história da Reforma Protestante, aborda a detenção do conhecimento pela Igreja Católica, principalmente o Bíblico. Somente alguns podiam ser educados e, conforme vemos no filme, a educação se restringia ao que o professor repassava para seus alunos. O personagem Lutero, no entanto, procura mudar drasticamente esse modelo ao questionar seu professor e fazê-lo passar por situações de constrangimento por não saber como responder. O próprio Lutero, que também ministra aulas, persuade seus alunos sobre muitos assuntos, fazendo-os refletir sobre muitas coisas acerca da Igreja.

Em “O espelho de duas faces”, o professor de matemática demonstra ter a personalidade do detentor de informações e possui uma postura completamente indiferente a seus alunos e ao ambiente de troca escolar. Por outro lado, seus alunos também ignoram a aula e o que o professor escreve no quadro, pois para eles o conteúdo não faz sentido e não está ligado a nada que lhes interesse. De um outro lado vemos uma professora de literatura que demonstra integração total com a sala de aula, com o que os alunos têm a observar sobre o conteúdo, usa linguagem simples e mantém o interesse de todos por ter uma postura flexível e crítica, causando o mesmo nos alunos.

Como pode-se observar, os dois filmes falam de duas realidades muito presentes ainda hoje nas salas de aula. Portanto, quando se fala em evolução dos papéis do professor, é necessário ter em mente de que nem todos alcançaram ao alcançarão essa nova postura crítica, flexível, atualizada e orientadora que se espera nos docentes do século XXI. E consequentemente, como também fica claro, nos filmes e em nosso próprio cotidiano didático, os alunos mudam suas posturas de acordo com a postura que seus mestres apresentam. Não que os alunos de um professor de estilo tradicional jamais questionarão sobre o assunto, mas é bem provável que ao fazê-lo a sua postura seja a mesma de Lutero: questionar para desconstruir o que o professor afirma com tanta veemência e não para colaborar de forma amigável.

É necessário que qualquer professor dos dias atuais saiba que, independente de sua postura em classe, os alunos de hoje, muito mais do que ontem, não são bacias vazias, sem conhecimento e que precisam urgentemente de instrução para conseguir um emprego. A internet, a televisão, revistas, bibliotecas espalhadas por todos os lugares e maiores facilidades de viagens têm enriquecido a vida de crianças antes mesmo de elas pensarem em ser matriculadas na escola. Os alunos, em qualquer grau de ensino, já têm idéias, mesmo que incipientes, sobre tudo o que acontece no mundo e o que eles não sabem, podem descobrir com o simples manuseio do mouse do computador.

Essa facilidade de se chegar aos conteúdos, ao invés de derrubar a figura do professor, ajuda-o a sair da mesmice de ter que repassar a mesma matéria dezenas de vezes, pois seus alunos, ao se interessarem, podem descobrir coisas que o próprio docente não sabia. O grande trunfo do professor hoje deve ser o de orientador, ajudando os alunos a se movimentarem em meio a tanta informações, a escolher o que é mais significativo, a terem criticidade.

Nessa nova sala de aula também é urgente que se discuta com mais propriedade os conteúdos a serem ministrados e principalmente a metodologia a ser utilizada, pois ainda hoje, com tanta tecnologia, muitos alunos não entendem o porquê de terem que estudar certos conteúdos por não perceberem neles nenhuma utilidade prática em suas vidas. Esse pensamento é normal para uma sociedade que não tem mais tempo para o que é supérfluo, na qual o tempo passa muito rápido e são muitas as informações e cobranças. Na antiguidade, o ideal de educação era que todos soubessem sobre tudo e pudessem dominar desde a arte até as ciências. No entanto, vivemos na sociedade das especialidades, o saber está cada vez mais dividido e não há tempo a perder com informações que não serão usadas.

A evolução educacional não tem limites, assim como o a evolução da humanidade, hoje já se está discutindo a educação à distância e a nova postura do docente nessa era digital. O mais importante a ser assimilado em qualquer era da história que nos encontrarmos, é a de que o professor deve sempre manter a postura de mestre e aprendiz ao mesmo tempo, deve manter-se crítico sobre si mesmo e seus próprios conhecimentos e saber que cada aluno possui uma história única com experiências que ele desconhece. E dar a voz a esses alunos será a melhor leitura a ser feita em sala de aula.
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Texto escrito em 2007 - Especialização

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